Google reacionário

Clique na imagem para ampliar



Entrevista de emprego para a IV Internacional

Clique na imagem para ampliar.


Fonte: Espresso Stalinist

Máscara mortuária de Stalin será leiloada

Será leiloada ainda nesta semana, na Inglaterra, a máscara mortuária de Joseph Stalin, modelada poucos instantes depois da morte do grande líder soviético. Acredita-se que esta máscara seja uma das duas únicas que existem no ocidente, estando a outra escondida em uma coleção privada em Londres.

Máscaras mortuárias são modeladas a partir do rosto de pessoas falecidas instantes após sua morte, preservando para sempre seus últimos momentos de serenidade, e são mais comumente associadas a grandes artistas e compositores.

A peça em questão, feita de bronze e composta também pelas mãos de Stalin, são increvelmente raras, afirma Richard Westwood-Brooks, especialista em documentos históricos.

"Há nove máscaras mortuárias originais, estando todas na Rússia", diz Westwood-Brooks. "Só depois de 1990 é que foi possível alguém vê-las."

"Essas máscaras foram reproduzidas a partir da máscara original, e há apenas duas delas no ocidente."

"Esta é a única chance que alguém terá para obtê-las num futuro previsível."

"O mais próximo que você pode chegar de Stalin é tê-lo na sua sala-de-estar. Acredito que esta máscara o retrata em seu momento mais calmo e sereno."

"Máscaras mortuárias são uma tradição antiga, reis e rainhas da antiga Grécia e do Egito tinham essa prática. Acho que atualmente eles simplesmente publicariam uma foto no Facebook."

"Normalmente elas são associadas a artistas. Beethoven tem uma, assim como vários outros."

"Mas até onde eu saiba apenas Stalin e Napoleão, em termos de grandes líderes, tiveram uma. Nem Churchill teve." 





Com informações de Daily Mail

Editora publicará milhares de documentos de Stalin


A Editora da Universidade de Yale deve disponibilizar para venda ainda no primeiro semestre de 2012 o Stalin Digital Archive (Arquivo Digital do Stalin), o qual contará com mais de 28 mil documentos relacionados com o dirigente bolchevique, disse John Donatich, diretor da editora.

O projeto é fruto de mais de 20 anos de colaboração entre a Editora da Universidade de Yale e o Arquivo do Estado Russo de História Política e Social (RGASPI, na sigla em russo). David Schiffman, diretor de edições digitais da editora, afirmou que estudantes terão acesso ao arquivo gratuitamente, já que a editora fornece todas as suas publicações à biblioteca da universidade.

"O objetivo principal é fornecer aos estudantes e pesquisadores acesso a um importante conjunto de fontes primárias sem ter que viajar para Moscou", disse Donatich. "É uma nova maneira de fazer pesquisa tornada possível graças ao rápido desenvolvimento de ferramentas digitais que não existiam 10 anos atrás".

O arquivo inclui papeis pessoais de Stalin, cartas e anotações feitas nas margens de diversos livros, além de documentos relacionados ao seu trabalho no governo e em assuntos externos, disse Schiffman, comparando-o com uma biblioteca presidencial.

John MacKay e Vladimir Alexandrov, professores de Língua e Literatura Eslavas, afirmaram que o período de história soviética abrangido pelo arquivo teve efeitos de grande repercussão em todo o mundo, tornando-o um importante recurso para pesquisadores.

Criança escrava nunca provou um chocolate


Criança escrava trabalha em colheita de cacau na Costa do Marfim mas - ironia do capitalismo - nunca provou um chocolate em sua vida.

O menino diz que tudo o que gostaria é ir para uma escola e aprender a ler e a escrever. Relata que teve que ir trabalhar após a morte de seu pai.

"Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros." (Che Guevara)



"Torturei uns trinta"


O ex-tenente Marcelo Paixão de Araújo: herdeiro
de uma das grandes fortunas mineiras

Marcelo Paixão de Araújo debruçou-se sobre uma mesa de vidro, na sala de seu amplo apartamento, em Belo Horizonte, pediu à empregada para trazer biscoitos, água mineral e café — e prestou a VEJA um histórico depoimento de quase duas horas. Com ele, tornou-se o primeiro agente da repressão a admitir em público que torturava presos políticos durante a ditadura militar. Hoje, passados trinta anos, sua vida é tranqüila. Herdeiro dos fundadores do sólido Banco Mercantil, Marcelo Paixão de Araújo formou-se em direito e trabalha como corretor de seguros, em Betim, a 30 quilômetros de Belo Horizonte, para onde vai dirigindo seu Toyota do ano. Casado, duas filhas, acaba de mudar-se para um apartamento de 300 metros quadrados, na região da Savassi, um dos bairros mais chiques da capital mineira. Apesar dos 15 quilos acima do peso ideal, ele maneja seu barco no lago de Furnas, onde tem uma casa para os fins de semana. De manhã, lê por uma hora, antes de sair para o trabalho. Em casa, tem uma biblioteca de 2.500 volumes, onde se podem encontrar desde clássicos da literatura brasileira até manuais de tortura. Ele gosta de livros de política e de História e, nos últimos tempos, tem-se dedicado à leitura de biografias. Leu A Lanterna na Popa, do ex-ministro Roberto Campos, e Chatô, o Rei do Brasil, do jornalista Fernando Morais.

"A tortura causa um desgaste muito grande. Nunca me neguei a torturar alguém, mas só fazia quando havia necessidade. Mas a brincadeirinha não tem a menor graça, viu?" (risos)

Em 1968, Marcelo Paixão de Araújo servia como tenente no 12º Regimento de Infantaria do Exército em Belo Horizonte, um dos três centros mais conhecidos de tortura da capital mineira durante a ditadura militar. Ali, permaneceu até 1971. "Fiquei porque achava que a única forma de consertar o país era por meio das Forças Armadas", diz. Ao deixar a caserna, foi trabalhar na empresa do pai, a Minas Brasil, braço de seguros do Banco Mercantil, onde ocupava o cargo de superintendente técnico. Raríssimas vezes usava terno e gravata. Preferia trabalhar de calça jeans. "Ele era diferente do pai e dos irmãos. Era um moleque, uma pessoa muito alegre, que vivia contando piada", diz uma ex-funcionária da empresa. "Descobri que eu não havia nascido para ser executivo", conta Marcelo. Ali, trabalhou seis anos, mas teve tantos problemas que saiu da empresa para o divã do analista. Fez sete anos de análise. Ele garante que não recorreu ao divã em função da passagem pelo porão e diz que vive em paz com seu passado. Na entrevista a VEJA, o ex-tenente alternou estados de humor, indo da descontração à rispidez em segundos. Aqui, ele conta como e por que torturou três dezenas de presos políticos, de 1968 a 1971:

O engenheiro Leovi Carísio, hoje com 52 anos, foi uma das vítimas de tortura do ex-tenente. Era militante do grupo Colina/VAR-Palmares, ficou mais de três anos preso e passou pelo pau-de-arara, "esticamento" e tomou choque. Ele explica: "Marcelo me obrigava a deitar de costas numa mesa. Aí, ele amarrava meus punhos e tornozelos aos pés da mesa e puxava de um lado ao outro até envergar meu tronco. Era horrível" Foto: Moreira Mariz  

Veja — Durante a ditadura, em depoimentos na Justiça Militar, 22 presos políticos acusam o senhor de tortura. É verdade?

Araújo — Quem lhe disse isso?

Veja — Vi nos processos na Justiça Militar. E, pela quantidade de presos que o citaram, o senhor é o agente da repressão que mais praticou torturas. É verdade?

Araújo — Sim. Todos os depoimentos de presos que me acusam de tortura são verdadeiros.

Veja — O senhor fez isso cumprindo ordens ou achava que deveria fazê-lo?

Araújo — Eu poderia alegar questões de consciência e não participar. Fiz porque achava que era necessário. É evidente que eu cumpria ordens. Mas aceitei as ordens. Não quero passar a idéia de que era um bitolado. Recebi ordens, diretrizes, mas eu estava pronto para aceitá-las e cumpri-las. Não pense que eu fui forçado ou envolvido. Nada disso. Se deixássemos VPR, Polop (organizações terroristas) ou o que fosse tomar o poder ou entregá-lo a alguém, quem se aproveitaria disso seriam os comunistas. Não queríamos que o Brasil virasse o Chile de Salvador Allende. Nessa época, eu tinha 21 anos, mas não era nenhum menino ingênuo (risos). O pau comia mesmo. Quem falar que não havia tortura é um idiota.

Ex-militante do PCB, três anos de cadeia, o hoje professor de História Ápio Costa Rosa, 57 anos, carrega marcas físicas da tortura. "Marcelo apagava cigarro no meu corpo, mas a pior coisa que ele fez foi me deitar no chão, colocar um cabo de vassoura no meu pescoço e subir em cima. Aí, quando eu ia respirar, ele derramava óleo no meu rosto. Estou pagando por isso tudo até hoje", diz

Veja — Como o senhor aprendeu a torturar?

Araújo — Vendo.

Veja — O que o senhor fazia?

Araújo — A primeira coisa era jogar o sujeito no meio de uma sala, tirar a roupa dele e começar a gritar para ele entregar o ponto (lugar marcado para encontros), os militantes do grupo. Era o primeiro estágio. Se ele resistisse, tinha um segundo estágio, que era, vamos dizer assim, mais porrada. Um dava tapa na cara. Outro, soco na boca do estômago. Um terceiro, soco no rim. Tudo para ver se ele falava. Se não falava, tinha dois caminhos. Dependia muito de quem aplicava a tortura. Eu gostava muito de aplicar a palmatória. É muito doloroso, mas faz o sujeito falar. Eu era muito bom na palmatória.

Veja — Como funciona a palmatória?

Araújo — Você manda o sujeito abrir a mão. O pior é que, de tão desmoralizado, ele abre. Aí se aplicam dez, quinze bolos na mão dele com força. A mão fica roxa. Ele fala. A etapa seguinte era o famoso telefone das Forças Armadas. Tinha gente que dizia que no telefone vinha inscrito US Army (indicando que era produto das Forças Armadas americanas). Balela. Era 100% brasileiro. O método foi muito usado nos Estados Unidos e na Inglaterra, mas o nosso equipamento era brasileiro.

Veja — E o que é o telefone?

Araújo — É uma corrente de baixa amperagem e alta voltagem.

Veja — De quanto?

Araújo — Posso pegar o manual para informar com certeza. Mas não tem perigo de fazer mal. Eu gostava muito de ligar nas duas pontas dos dedos. Pode ligar numa mão e na orelha, mas sempre do mesmo lado do corpo. O sujeito fica arrasado. O que não se pode fazer é deixar a corrente passar pelo coração. Aí mata.

Veja — Qual era o estágio seguinte quando o preso não falava?

Araújo — O último estágio em que cheguei foi o pau-de-arara com choque. Isso era para o queixo-duro, o cara que não abria nas etapas anteriores. Mas pau-de-arara é um negócio meio complicado. No Rio e em São Paulo gostavam mais de usar o pau-de-arara do que em Minas Gerais. Mas a gente usava, sim. O pau-de-arara não é vantagem. Primeiro, porque deixa marca. Depois, porque é trabalhoso. Tem de montar a estrutura. Em terceiro, é necessário tomar conta do indivíduo porque ele pode passar mal. Também tinha o afogamento. Você mete o preso dentro da água e tira. Quando ele vai respirar, coloca dentro de novo, e vai por aí afora. É como um caldo, como se faz na piscina. Era eficiente. Mas eu não gostava. Achava que o risco era muito alto. Afogamento não era a minha praia (risos). A geladeira, uma câmara fria em que se coloca o preso, não funcionava em Belo Horizonte. Era muito caro. O que tinha era o trivial caseiro. O menu mineiro.

Aos 53 anos, o engenheiro mecânico José Antônio Gonçalves Duarte, ex-militante do Partido Operário Comunista, POC, lembra com clareza seu suplício: "Esse pulha do Marcelo me torturou durante 98 dias. Era choque nos dedos, ouvidos e órgãos genitais, e afogamento. Há seis anos, eu o vi em São Paulo. Pensei: 'Como é fácil matar esse cara'. Minha mulher me puxou pelo braço e fomos embora". Fotos: Egberto Nogueira

Veja — O que mais tinha no menu mineiro?

Araújo — A dança da lata eu praticava muito.

Veja — Como era?

Araújo — Eu pegava duas latinhas de ervilha e abria. Depois, colocava o cara de pé, em cima.

Veja — Sangrava?

Araújo — Não. Ele falava antes disso (gargalhadas). Mas quem era mais leve agüentava mais tempo.

Veja — E quem não tinha o que dizer?

Araújo — Ia para a lata igual. Mas é muito fácil identificar quem tinha e quem não tinha o que falar.

Veja — Como?

Araújo — Militante é diferente. Jornalista é diferente de militar, que é diferente de empresário, que é diferente de militante. Ele se deixa trair por uma série de coisas. O linguajar, para começar, é diferente. Então, inocente só era torturado quando o agente era muito cru, sem conhecimento algum da práxis marxista, ou quando era um sádico. É muito fácil identificar uma pessoa que não é de esquerda. Vou dar um exemplo. Há algum tempo fui comprar dólares no Banespa, no câmbio turismo. Como até hoje tenho minha carteira militar, apresentei-a no lugar da identidade. O atendente viu a carteira, olhou para mim e perguntou:

— O senhor serviu no colégio militar?

— Tive uma época lá. Por quê? Você foi aluno lá?

— Não.

— Você foi soldado?

— Não.

— Escuta, eu te prendi?

— Não foi bem assim. Fui preso e o senhor foi o único que acreditou em mim. Apanhei com palmatória antes de o senhor chegar e me liberar.

— Sorte, hein? Já pensou se fosse o contrário? (risos).

Veja — O senhor já reencontrou alguma pessoa que torturou?

Araújo — Sim. Eventualmente, eu encontro ex-presos meus, inclusive os que apanharam. E o relacionamento não é muito ruim, não. Não é aquele negócio de dar beijinhos e abraços. Mas é um relacionamento de respeito. Há pouco tempo, aqui em Belo Horizonte, encontrei o Lamartine Sacramento Filho, que é professor em uma faculdade local. Segurei ele no ombro e disse: 'Você não me conhece, não?' Ele levou um susto. Aí eu disse: 'Você tá bom?' Ele disse que sim e não quis mais conversa. Mas também não passa batido, não (risos). Não deixo passar batido (sério).

Veja — Por quê?

Araújo — É o meu esquema. Não deixo passar batido. Não vai passar batido. Não passa batido. Vou lá, coloco a mão no ombro dele e digo: Não me esqueci de você, não. Você lembra de mim? Estamos aí. A vida continua.

Veja — Quantas pessoas o senhor já torturou?

Araújo — Não tenho idéia. Não sou igual a matador que faz talho na coronha do revólver para cada um que mata. Mas você quer um número aproximado?

Veja — Sim.

Araújo — Uns trinta.

Veja — O senhor matou alguém em sessões de tortura?

Araújo — Não. Já atirei, mas não matei.

Veja — Mas morreu gente onde o senhor servia.

Araújo — Pouca gente. O João Lucas Alves, que era um ex-sargento da FAB, foi um deles. Ele morreu na tortura.

Veja — O senhor participou?

Araújo — Não. Isso foi alguns dias antes de eu ser convocado. Depois que eu saí, se morreu alguém eu não sei.

Veja — O que é besteira e o que é verdade no que já se escreveu sobre tortura no Brasil?

Araújo — Há algumas pequenas inverdades. Mas a maioria dos fatos é correta. Há pouca besteira e muita verdade. As pessoas que participaram desse período até hoje não falaram abertamente. As altas autoridades do país foram as primeiras a tirar o seu da reta. Morri de rir ao ler o livro sobre o Geisel (refere-se ao livro que reúne as memórias do ex-presidente Ernesto Geisel, publicado no ano passado pela Fundação Getúlio Vargas). Segundo o depoimento de Geisel, ele não sabia de nada, mandava apurar tudo, era um inocente. É uma gracinha isso tudo. Todos os agentes do governo que escreveram sobre a época do regime militar foram muito comedidos. Farisaicos, até. Não sabiam de nada, eram santos, achavam a tortura um absurdo. Quem assinou o AI-5? Não fui eu. Ao suspender garantias constitucionais, permitiu-se tudo o que aconteceu nos porões. É claro que havia diversas pessoas envolvidas nisso. Mas eu não vou citar o nome de ninguém. Falo apenas de mim.

José Adão Pinto, que pertencia à Corrente Revolucionária, um braço mineiro da ALN, hoje é dono de uma livraria em São Paulo, tem 51 anos, casado, sem filhos: ele ficou estéril devido às intermináveis sessões de choque nos órgãos genitais e sofre de hemorróidas, pois lhe introduziam um cabo de vassoura no ânus. "Todo mundo me torturava, e não apenas o Marcelo, pois eu era o único negro"

Veja — Por que o senhor deixou o Exército?

Araújo — Estava numa encruzilhada. Ou eu ia para a academia ou tomava outro rumo na vida. Preferi terminar o meu curso de direito.

Veja — A tortura não é uma coisa desumana?

Araújo — (Silêncio)

Veja — Quem tortura age como um monstro?

Araújo — Monstro? (em tom indignado). Não. As pessoas que transitam em determinado meio tendem a se relacionar com seus pares. Então, militar andava com militar, policial andava com policial. Essas práticas eram normais entre nós. Quem eu achava que era monstro eram os sádicos. Eu mesmo afastei dois sargentos. Não queria sádicos trabalhando comigo.

Veja — O senhor tem medo de alguma vingança?

Araújo — Não. Andei armado de 1973 até 1980. Tinha um Smith & Wesson, calibre 38, de cinco tiros. Hoje não uso mais arma. Minha preocupação era a violência. Achava que tinha obrigação de reagir à violência. Aí descobri que ia armar bandido. Se for para andar armado, vou atirar pelo menos duas vezes por semana, não vou andar no volante, enfim, há uma série de precauções que precisam ser tomadas.

Veja — O senhor não tem medo de que aconteça algo para suas filhas?

Araújo — Uma das minhas meninas estuda direito na PUC. Há um ano, um débil mental falou para toda a sala que o pai dela tinha sido do Doi-Codi, que torturava gente, esse tipo de coisa.

Veja — Ela já sabia do seu passado?

Araújo — Sim. Quando uma tinha 13 anos e a outra 14, contei tudo. Foi na época em que saiu o livro Brasil: Nunca Mais. O meu nome está lá, na segunda página, para todo mundo ver (risos). É engraçado. Todo mundo tem o livro, mas pouquíssima gente leu.

Veja — Foi difícil essa conversa?

Araújo — Não foi muito difícil, não. Sou um bom pai. Minhas filhas foram bem criadas. Conhecem o pai que têm. Eu nunca escondi as coisas. Nunca disse a elas que fui um santinho. Disse a elas que não pensassem que eu não bati em alguém. Bati, sim. Elas ficaram um pouco chocadas e disseram: 'Pai, já sabemos, mas agora pára'. Não queriam detalhes. Eu segui a minha vida. Não adianta esconder esse tipo de coisa. A verdade uma hora vem à tona.

Veja — O senhor sofreu algum tipo de crise de consciência em função da tortura?

Araújo — Isso sempre deixa dramas na gente. É uma coisa pesada. Não é bom tratar um semelhante dessa forma. Você não quer aproveitar e comer um biscoitinho? (Ele come um biscoito.) Depois de deixar o Exército, tive uma grande crise de depressão. Fiz análise durante sete anos. Mas não foi por isso. Tinha problemas existenciais que não podem ser relacionados com a minha atividade no porão. Tinha problemas na empresa. Queria fazer coisas e o pessoal não queria. Foi problema profissional. Tinha um salário muito bom e ele piorou demais. E dinheiro é uma desgraça. É bom quando não faz falta.

Veja — O senhor se arrepende de ter torturado?

Araújo — Não me arrependo. Mas se você me perguntar se eu faria de novo, é outra conversa. É como você me perguntar se eu gostaria de voltar a ter 21 anos hoje. Com a experiência e o dinheiro que tenho atualmente, quero (risos). Mas não me arrependo de nada do que fiz.

Veja — O senhor faria tudo outra vez?

Araújo — Se achasse que não havia outro caminho para livrar o país do comunismo, sim. Mas, em princípio, não. Porque a tortura ou, eufemisticamente, o interrogatório por meios violentos, que não precisa necessariamente ser a porrada, causa um desgaste muito grande. Nunca me neguei a torturar alguém, porém só fazia quando havia necessidade. Mas a brincadeirinha não tem a menor graça, viu (risos).

Veja — Por que o senhor fazia isso, então?

Araújo — O índice de aproveitamento é de mais de 90%. A primeira vez que vi um interrogatório, como assistente, fiquei chocado. E olha que não tinha agressão. Foi só interrogatório policial duro.

Veja — O que o deixou chocado?

Araújo — A forma como o interrogado desmontou sem apanhar. Não adianta fazer interrogatório sem saber quem é o sujeito, de onde veio e o que faz. Era bobagem pegar um sujeito que foi flagrado com um folheto que se imaginava ser da ala vermelha do PCBR ou do PC do B. Isso não levava a lugar algum. Sabe o que funcionava demais? Um tapa com força na mesa. O cara levava um susto. E falava. Quando vi esse interrogatório, fiquei com pena do sujeito. Eram cinco pessoas em volta dele, gritando, ameaçando, chamando-o de mentiroso. Achava que o cara era inocente. Perdi a pena quando ele abriu o bico. Aí eu disse: "Ah, seu sem-vergonha, quer dizer que isso funciona". Com o tempo, vi outros interrogatórios mais duros. Em seguida, passei a atuar como agente.

Veja — Por que o senhor participou disso tudo?

Araújo — Eu achava que havia a necessidade de destruir as organizações de esquerda do país. Era uma convicção íntima. Nunca gostei do marxismo. Sempre fui visceralmente antimarxista. Isso é uma questão de formação. Meu pai sempre foi antimarxista. A coisa complicou quando descobri que o método (a tortura) era rápido. Bastava levar para o porão e pronto. Mas raríssimas vezes deixei de começar um interrogatório conversando com o indivíduo. Não vou dizer que no calor da prisão o cara não tenha ido direto para o porão. Já aconteceu, sim. Mas foram poucas vezes. Por que sabem o meu nome completo? Porque eu nunca escondi o meu nome. Tinha convicção quanto ao que estava fazendo. Eu não tinha codinome, como quase todo mundo. Portanto, não sou o maior torturador do país, mas sim um dos poucos que agiram de cara limpa.

Veja — Hoje, quase três décadas depois, o senhor não faz nenhuma ressalva ao passado?

Araújo — É preciso admitir que os resultados foram pífios. Atacamos muito a subversão e pouco a corrupção. A única coisa que o Geisel falou em seu livro que eu lhe dou razão é que não se pode fazer um movimento apenas contra. Tem de ser a favor de algo. Faltava isso no movimento. Houve outros equívocos. Para acabar com as lideranças de esquerda, acabaram com as de direita também. Cercearam o movimento estudantil, a política partidária. Foi uma pena. A gente podia ter aproveitado para fazer uma grande remodelação do país. Recentemente, lendo as memórias do Oswaldo Aranha, vi que ele diz o mesmo da Revolução de 1930. Tinha-se de aproveitar aquele período discricionário rapidamente, para impor com agilidade as reformas necessárias. Eu concordo inteiramente com ele.

Veja — Por que o senhor só resolveu dar esse depoimento agora?

Araújo — Porque ninguém me havia perguntado sobre isso antes.

Por Alexandre Oltramari
Fonte: Veja

Morre um dos 8 membros do Comitê que tentou salvar a URSS em 1991


No último 30 de dezembro faleceu de um ataque cardíaco Vasily Starodubtsev, na cidade de Novomoskovsk, aos 80 anos. Com a morte de Starodubtsev restam com vida apenas três dos oito membros do Comitê de Emergência, órgão que tomou o poder na URSS por três dias com a intenção de garantir a sobrevivência do poder soviético em agosto de 1991.

Nascido em 1931, Starodubtsev trabalhou desde jovem em um Kolkhoz. Estudou Engenharia Mecânica, o que lhe permitiu ser mecânico de aviões no Exército Vermelho e mais tarde mecânico em uma mina. Em 1966 cursou a especialidade "Economia e Organização da Agricultura" e no ano seguinte foi eleito presidente da União dos Agricultores da URSS (federação agrária do sindicato) e deputado da União Soviética em 1989.

Depois da escassez causada pela incompetência (ou pela premeditação) do bando de Gorbachev; depois que os nacionalistas a serviço do ocidente sub-repticiamente iniciaram uma campanha contra a URSS; depois que a República Soviética Russa aprovou leis contrárias às leis da URSS; e depois que os povos soviéticos expressaram democraticamente em referendo sua intenção de manter a URSS enquanto Gorbachev e seu bando faziam o possível para desmantelá-la, a sobrevivência da URSS pendia por um fio. Era um momento crítico. Fartos de aguentar tanta injustiça, fartos de ver como tudo que havia sido conseguido em mais de 70 anos de socialismo estava a ponto de ser desmantelado por uma casta de dirigentes burocratas, um grupo dos melhores quadros do PCUS deu um passo à frente. 

Há momentos na vida de um revolucionário em que é preciso cumprir com seu dever, por mais difíceis que sejam as circunstâncias. Há ocasiões nas quais um revolucionário não pode ficar parado, mesmo que todo mundo mais não se mova. A União Soviética estava à deriva, e os quadros revolucionários do PCUS tinham que se organizar para evitar o inevitável.

A situação assim o exigiu e em 19 de agosto de 1991 (um dia antes que se firmasse um novo tratado da União, que supunha sua desintegração na pŕática, sem respeitar a vontade do povo soviético) se declara o Estado de Emergência. À frente da URSS se colocava de maneira provisória um Comitê de Emergência, e ali estava Starodubtsev. A CIA se colocou a favor de Gorbachev e Yeltsin e o Comitê de Emergência fracassou três dias depois. Starodubtsev, assim como os outros componentes do comitê foram expulsos, presos e acusados de traição. Posteriormente Starodubtsev foi governador de sua região (Tula), e nas eleições de 4 de dezembro havia sido eleito deputado na Duma pelo Partido Comunista. 

Vale o exemplo deste revolucionário que teve o valor de estar onde sua consciência revolucionária o exigia. Descanse em paz.


Fonte: Sovietofilia
Tradução de O Marxista-Leninista

Capa de invisibilidade

Fonte: Bobagento

Juventude norte-americana prefere o socialismo


De acordo com pesquisa realizada pelo instituto Pew Research Center, publicada na última quarta-feira (28/12), a maioria dos jovens estadunidenses com idade entre 18 e 29 anos tem uma visão positiva do socialismo.

Apesar da diferença ainda não ser larga – 49% tem uma visão positiva do socialismo, enquanto 43% ainda tem uma visão negativa -, os números apresentados se inverteram em apenas 20 meses. Na pesquisa anterior, 49% tinham uma visão negativa.

Os números mostram também que a diferença é pequena no estrato de baixa renda pesquisada ($30.000,00 anuais), com 43% tendo uma visão positiva do socialismo, contra 46% com uma visão negativa.

Entre os negros o socialismo leva ainda maior vantagem: 55% tem uma visão positiva, contra apenas 36% afirmando o contrário.

Glauber Ataide