Durante o período eleitoral foi muito comum o ataque dos candidatos da extrema direita à candidata do PT, Dilma Rousseff, chamando-a de terrorista. Usaram este termo referindo-se ao período em que Dilma participou de movimentos da esquerda armada contra a ditadura militar.
Não foi a primeira vez (e não será a última) que a direita dá o nome de terrorista a alguém que pega em armas para defender seu país. Na verdade, mais do que apenas caluniar através da mídia, a direita tenta transformar movimentos armados em terroristas, corrompendo elementos e manipulando as informações. É o que aconteceu com o Partido Panteras Negras, movimento armado em defesa dos negros nos EUA nos anos 1960, que foi difamado pelo governo, que infiltrou drogas e traficantes nas comunidades negras. Também é o que acontece hoje com as Farc, movimento revolucionário da Colômbia, ao qual a mídia atribui várias ações terroristas de traficantes e do próprio governo. Recentemente, a revista Veja chamou até o grande revolucionário Che Guevara de terrorista.
Mas antes de aceitarmos que os jovens que lutaram contra a ditadura militar - ditadura que censurou a imprensa e a educação, que mais que duplicou nossa dívida externa e nossa dependência dos EUA, que impôs o medo a tantos brasileiros, que impedia a livre expressão e atuação política, que freou os avanços sociais do Governo Jango e acabou com as reformas de base fortalecendo a desigualdade social no Brasil - é importante lembrarmos o papel da luta armada em toda a história do Brasil.
A história do Brasil é a história da resistência do povo brasileiro. Na época da colônia foram as revoltas dos índios contra a exploração portuguesa e até de outros países da Europa que vigoraram. Como a Confederação dos Tamoios (1555-1567), a Guerra dos Aimorés, na Bahia (1555-1673), e a Guerra dos Potiguares, na Paraíba e no Rio Grande do Norte (1586-1599). Depois começaram as resistências às Entradas e Bandeiras, expedições bandeirantes e bugreiras de exploração e captura de indígenas no interior do Brasil, que duraram até o século 17.
Por não conseguirem dominar a maioria dos índios e adequá-los à escravidão, os portugueses trazem mais escravos da África. Quase imediatamente começam a existir os quilombos e, finalmente, acontece a Guerra dos Palmares. Os quilombos foram formados no Brasil até o século 18 e ainda hoje existem diversas comunidades negras e quilombolas no país.
Durante quatro anos, de 1617 a 1621, ocorreu o levante dos tupinambás, numa brava resistência aos portugueses que abrangeu o Estado do Espírito Santo e a Bahia, e, na mesma época, a primeira Insurreição Pernambucana, a Guerra da Luz Divina. Em São Paulo houve a Revolta de Amador Bueno, insurreição popular de 1641. Em 1666, o Motim do Nosso Pai, em Pernambuco, e a Revolução de Beckman, ou revolta de comerciantes no Maranhão, de 1684 a 1685. E continuam as revoltas indígenas com a Confederação dos Cariris, na Paraíba e no Ceará (1686-1692), e com a Guerrilha dos Muras, já no século 18. Teve também a Guerra dos Emboabas entre bandeirantes e mineiros, em São Paulo e Minas Gerais, no início de 1700.
E aí se iniciam as revoltas contra as altas taxas e impostos, como a Revolta do Sal, em Santos (1710), a Guerra dos Mascates entre comerciantes e canavieiros, em Pernambuco (1710-1711), os Motins do Maneta, sublevações ocorridas em Salvador contra o monopólio do sal e aumento de impostos (1711), e a Revolta de Felipe dos Santos, revolta de mineradores contra a política fiscal em Minas Gerais (1720).
Com a ampliação do controle português sobre o território brasileiro, continua a resistência indígena, desta vez no Amazonas, a Guerra dos Manaus (1723-1728), e a Resistência Guaicuru, no Mato Grosso do Sul (1725-1744). E até os jesuítas se unem aos índios catequizados em luta contra Portugal e Espanha na Guerra Guaranítica no Sul (1751-1757).
Até que chegamos às revoltas pela independência do Brasil: a famosa Inconfidência Mineira republicana (1789), a Conjuração Carioca (1794-1795) e a Conjuração Baiana ou Revolução dos Alfaiates (1798), revolta independentista e abolicionista, a única das três que não foi abortada. E, já no século 19, a Conspiração dos Suassunas, em Pernambuco (1801), onde também se deu a Revolução Pernambucana, em 1817, a Revolução Liberal de 1821, na Bahia e no Pará, a Independência da Bahia (1821-1823) e finalmente a guerra da independência do Brasil contra militares legalistas portugueses, que abrangeu Bahia, Piauí, Maranhão e Pará (1822-1823).
Com o Império, novas revoltas: a Confederação do Equador, revolta separatista no Nordeste (1823-1824), a Revolta dos Mercenários, contra o Império do Brasil no Rio de Janeiro (1828), onde também ocorreu a Noite das Garrafadas, insurreição popular e confronto entre brasileiros e portugueses, em abril de 1831, e a famosa Cabanada, insurreição popular na província de Pernambuco.
Aí volta, cada vez mais forte, o desejo pela república, como na Federação do Guanais, na Bahia (1832), e a Rusga, que foi uma revolta entre conservadores (que queriam manter o Império) e republicanos, no Mato Grosso (1834). Houve a também famosa Cabanagem, insurreição popular no Pará (1834-1840), a Revolta dos Malês, na Bahia (1835), a Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul (1835-1845), a Sabinada, insurreição popular na Bahia (1837-1838), a Balaiada, insurreição popular no Maranhão (1838-1841) e as Revoltas Liberais de São Paulo e Minas Gerais (1842) e a Revolta dos Lisos, em Alagoas (1844).
Em Pernambuco, houve o Motim do Fecha-Fecha (1844), o Motim do Mata-Mata (1847-1848) e a Insurreição Praieira, revolta socialista, de 1848 a 1850. A Revolta do Ronco de Abelha, no Nordeste (1851-1854), o Levante dos Marimbondo, em Pernambuco (1852), a Revolta da Fazenda Ibicaba, em São Paulo (1857), o Motim da Carne sem Osso, insurreição popular na Bahia (1858), a Revolta dos Muckers, insurreição popular-messiânica no Rio Grande do Sul (1868-1874), a Revolta do Quebra-Quilos, insurreição popular no Nordeste (1874-1875), a Guerra das Mulheres - uma insurreição popular no Nordeste (1875-1876) que mostra que as mulheres nunca foram passivas na história - a Revolta do Vintém, insurreição popular no Rio de Janeiro (1880) e Curitiba (1883), e, finalmente, a Proclamação da República, em 1889.
Quando os poderosos no Brasil veem que não vão conseguir parar as revoltas populares, eles vão e fazem algumas concessões ao povo sem perder o poder, mas com isso as revoltas não param, pois o povo quer uma mudança real que beneficie a todos e transforme a sociedade. Durante a República, teve a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul (1893-1894), a República de Cunani, insurreição popular-separatista no Amapá (1895-1900), e a famosa Guerra de Canudos, insurreição popular-messiânica na Bahia (1896-1897).
Já no século 20, houve a Revolução Acreana, insurreição popular-separatista no Acre (1900-1903), a Revolta da Vacina, insurreição popular no Rio de Janeiro (1903), a Revolta da Chibata, no Rio de Janeiro (1910), a Guerra do Contestado, insurreição popular-messiânica em Santa Catarina e Paraná (1912-1916), a Sedição de Juazeiro, insurreição política no Ceará (1914), a Revolta dos 18 do Forte no Rio de Janeiro (1922) e, finalmente, a Coluna Prestes, insurreição militar de fama internacional (1923-1925) que aderiu à Revolta Paulista de 1924.
Por conta desses movimentos (o último deles com forte influência socialista), o governo pensou: "Façamos a revolução antes que o povo a faça." E aí veio a Revolução de 1930, golpe de Estado civil-militar, e a Revolução Constitucionalista de 1932, revolta político-militar e guerra civil em São Paulo, e, finalmente, a insurreição comunista no Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Norte (1935). Até na Segunda Guerra Mundial houve mais de 23 mil soldados brasileiros lutando para derrotar o nazismo.
Em 1964, acontece o Golpe Militar fascista, patrocinado pela burguesia nacional e apoiado pelos EUA, para deter os avanços que o povo vinha conseguindo depois de tanto sangue derramado para cada vitória do povo. E, como nunca faltaram à luta contra as injustiças, filhos do povo brasileiro novamente se armaram na cidade e no campo contra esse novo inimigo do avanço da luta popular, o Governo Ditatorial.
A luta armada e as guerrilhas urbanas e rurais de 1965 a 1972, foram terrivelmente reprimidas pelo regime militar, com requintes de crueldade e desumanidade. Inúmeros filhos do nosso povo foram barbaramente torturados e assassinados. Mas a luta não parou e por isso, hoje, temos nossa "liberdade democrática" que garante, por exemplo, a publicação do jornal A Verdade e a existência do PCR, também como fruto dessa luta armada e de outras lutas que vieram depois.
É claro que ainda há muito por que lutar, e, até hoje, filhos do povo são assassinados pela polícia fascista na luta por moradia e terra no país. Mas a luta não vai parar. A polícia pode nos chamar de terroristas, mas somos o povo brasileiro e lutaremos, se for preciso com armas na mão, até que toda desigualdade e exploração seja banida. Lutaremos até a construção da sociedade socialista.
Fonte: http://www.averdade.org.br/modules/news/article.php?storyid=599
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