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Entrevista: como era a vida na Alemanha Socialista? Um operário nos revela

Como era a vida na Alemanha Socialista? Ninguém melhor para nos contar do que um comunista que realmente lá nasceu e viveu, e que ainda hoje luta pelo socialismo. Entrevistamos Olaf, nascido e educado na República Democrática Alemã (RDA, ou Alemanha Socialista), e ainda hoje um operário comunista. Crítico do curso revisionista tomado pela RDA a partir de 1956, Olaf acredita que apenas o socialismo pode livrar a humanidade da barbárie, mas ressalta: este socialismo teria características diferentes do sistema praticado na RDA.

Você nasceu na DDR (RDA)? Em qual cidade, e quantos anos viveu lá?


Eu nasci em 1968, nas proximidades de Berlim, mas cresci em Weimar e região, na Turíngia. Passei minha infância e juventude ali com minha família. Obtive minha formação profissional como mecânico junto às atividades políticas legais (obrigatórias) do regime (e em parte também ilegalmente: pichações políticas). Eu vivi na DDR até o final dos meus 20 anos de idade.


Como foi sua infância na DDR?


Eu frequentei a clássica escola superior politécnica. Praticava esportes em meu tempo livre (futebol, judô, bicicleta). Meus pais se separaram cedo, então eu cresci com minha mãe e minhas duas irmãs. Como minha mãe trabalhava, eu cresci também com a ajuda de minha avó. Ela me ajudava muito na escola. Eu aprendi muito com ela sobre a 2ª Guerra Mundial, suas causas e consequências. Eu andava muito pela floresta da Turíngia (pra colher cogumelos e madeira); trabalhei muito no jardim para nosso próprio sustento, pois a provisão de todos os tipos de alimentos na DDR era incerta. A gente recebia às vezes “encomenda do oeste”, da Alemanha Ocidental. Ou então a vovó fazia visitas ao oeste – uma ocasião muito especial para nós. No verão, eu ia para as piscinas públicas e, no inverno, esquiava. Na época havia ainda muita neve na Turíngia! 

Eu era ativo na FDJ (Pioneiros), na DSF (Amizade Alemã-Soviética) e também em associações de esportes. Participava também da “Estação de jovens técnicos e pesquisadores” em meu tempo livre, como atividade de extensão escolar – um lugar no qual a juventude e os cientistas se encontravam. A mesma coisa com os jogos anuais da Juventude Espartaquista. Ou então na formação paramilitar da juventude na GST (Juventude para o Esporte e a Técnica).

Eu lia muito e tentava buscar toda informação possível sobre os países do mundo. Na época não havia internet, computador ou telefone. Então comecei a me interessar por política, geografia e etnografia. Gostava sobretudo de livros do Jack London, Miloslav Stingl e Thor Heyerdahl, Darwin ou Humboldt. Com cerca de 13-14 anos comecei a ler os clássicos do marxismo-leninismo e a desenvolver minhas próprias ideias na escola, pois eu também ouvia rádio e assistia à TV do ocidente (para ter informações sobre o mundo).

Em minha formação profissional gostava de ouvir música dos anos 1980, mas também blues. Também aprendi handball e boxe. No boxe (e no baseball) tive longos contatos com trabalhadores estrangeiros cubanos e aprendi mais sobre a revolução, Che e José Martí. Aqui também havia discussões críticas, pois os cubanos na DDR não estavam felizes!


Como eram as escolas, o tempo livre, a televisão, as brincadeiras?


As escolas estatais eram concebidas como Escolas Superiores Politécnicas (POS), com obrigatoriedade escolar para todos. Os livros eram todos gratuitos e pagava-se pouco pela comida. Havia poucas escolas privadas ligadas à igreja. 95% de todas as escolas da DDR seguiam o modelo das POS, sendo o ensino igual para todos até a 10ª série. Assim foi também comigo. Após a 10ª série eu comecei a formação profissional. Havia também a EOS – a Escola Superior Continuada – até a 12ª série. O acesso à EOS me foi negado, pois minhas concepções políticas não estavam “de acordo com o sistema”. Eu falava sobre as contradições da DDR abertamente!

As escolas eram organizadas com turmas de 20-25 alunos, e as aulas tinham muitos exercícios. Também no período da tarde havia educação física ou atividades políticas obrigatórias e atividades facultativas (inglês, por exemplo). Uma matéria obrigatória na escola era russo!

Como falei: no tempo livre eu praticava esportes, mas tinha também obrigações familiares, fazia compras, jardinagem, ganhava dinheiro (recolhendo recicláveis) e correrias de todo tipo para fazer uma “caixinha”.

Havia na escola, a partir da 7 série, as matérias “Trabalho produtivo” e “Introdução à produção socialista”. Duas “matérias” que o estado utilizava para fazer os jovens trabalharem para si (em empresas reais), e também para prepará-los para o trabalho.

A televisão da DDR tinha apenas dois canais, mas havia também dois canais do leste (ARD, ZDF). A televisão da DDR era muito entediante (exceto o futebol) e na maioria das vezes muito distante da vida real das pessoas simples. No rádio eu gostava de ouvir a rádio americana da Berlim ocidental RIAS. Foi assim que aprendi a traduzir textos do inglês. Eu gostava de jogar futebol com os amigos no verão e frequentava as piscinas públicas. No inverno íamos frequentemente esquiar, ou ao cinema. Gostava de ir a shows de blues, pois havia muitos fãs do estilo entre nós (Weimar tinha uma famosa escola de música e bons clubes para estudantes).

Quase todas as crianças tinham brinquedos, jeans, discos e coisas afins que vinham do ocidente, os quais eles gostavam de compartilhar com os amigos no tempo livre. Na escola a gente aprendia desde cedo a matéria “Trabalhos”, a qual ajudava muita gente depois a conseguir uma vaga nas indústrias ou oficinas. Como costumávamos dizer na época: “fazer ouro a partir de esterco”, pois na DDR faltava frequentemente ferramentas ou matéria-prima.


Havia educação política na escola?


Havia tanto uma aula de história fortemente política quanto uma matéria - odiada por todos - chamada “Cidadania”, a partir do ensino médio. Esta era quase sempre ministrada por membros do partido SED nos coletivos de professores. O objetivo dessas matérias era desenvolver nos alunos um caráter socialista, o que raramente acontecia, pois todos tínhamos nossas próprias opiniões assim como discussões frequentes em casa. A maioria dos professores, no entanto, se dava por satisfeita quando os alunos decoravam o conteúdo. Quem se posicionava criticamente, como eu, tirava notas ruins, ou até mesmo suspensão, como ocorreu comigo. Pois eu lia os clássicos (Marx, Engels, Lenin) e não apenas decorava. Então eu criticava nas aulas: o Muro, as eleições controladas, o abastecimento insuficiente, os privilégios dos “Bonzen” ou também a invasão do exército vermelho ao Afeganistão. Mas eu apoiava a luta de libertação na Nicarágua, na Palestina ou na África do Sul. Fazia parte de nossa formação antifascista visitas ao campo de concentração de Buchenwald, próximo a Weimar, ou ao teatro nacional, na mesma cidade. Religião era coisa privada e proibida na escola. Isso fazia parte de um estado “ateu”.


Como era a questão da segurança?


Como a DDR era fechada pelo Muro, completamente vigiada pelo serviço secreto do estado e havia muitos policiais e espiões, a criminalidade era muito baixa. Os principais criminosos, quando avaliamos  hoje, eram o próprio estado, os seus “Bonzen” (muitos servidores públicos), a Nomenklatura que se enriquecia com a propriedade do povo e os altos funcionários do partido, que tinham dinheiro da Alemanha Ocidental (BRD), podiam viajar para lá e fazer compras nas “Intershop”, ou que tinham acesso à Genex. Ou que ganhavam tanto dinheiro que podiam comprar mercadorias raras e mantimentos nas lojas especiais da DDR. Mas também colegas se “serviam” nos negócios...

Segurança no emprego era garantida a praticamente todos. Exceto para os “antissociais”, ou para pessoas que oficialmente requisitavam uma permissão de viagem (como minha mãe) ou que protestavam contra o regime – estes não tinham nenhuma segurança. Estes poderiam ser presos a qualquer momento!


E como era a política de saúde e os hospitais?


Havia "policlínicas" e hospitais em todos os lugares. Os medicamentos eram gratuitos para todos, raramente você tinha que pagar por alguma coisa. Todo mundo tinha plano de saúde! Apenas para certos tratamentos especiais era necessário pagar do próprio bolso.  Os cuidados de saúde eram bons: desde o jardim de infância e a escola, havia os chamados “exames de triagem” (também dentista), que implementavam a exigência de vacinação do estado e ensinavam todas as crianças e adolescentes em higiene e educação em saúde. Isso era continuado mais tarde na formação profissional (e na vida profissional) e registrado na carteira de trabalho. A partir da 7ª série havia “educação sexual”: muito aberta e educativa. A contracepção era ensinada, assim como um relacionamento aberto e justo entre meninos e meninas. A homossexualidade não era abordada! Oficialmente, havia até uma seção sobre punição no H.S. - que foi abolido apenas nos anos 1980. Havia uma educação sobre AIDS na RDA no final dos anos 1980, mas não oficialmente, pois ela era conhecida como uma "doença sexualmente transmissível", mas ainda não havia sido pesquisada cientificamente. Minha mãe era enfermeira e eu costumava ir à clínica para vê-la no trabalho. Então, aprendi muito sobre o sistema de saúde em todas as suas facetas. Muitos estrangeiros foram tratados em clínicas especiais da RDA (por exemplo, cirurgia cardíaca) – em moeda estrangeira!


Como era a política habitacional? Havia pessoas sem casa? Havia mendigos nas ruas? As casas eram próprias ou alugadas pelo estado?


A maioria (cerca de 80%) da população trabalhadora simples vivia em "edifícios pré-fabricados", em conjuntos habitacionais ou em casas do estado, com um aluguel baixo. Eles pertenciam ao estado, à cidade ou a uma combinação dos dois. As famílias que herdavam, construíam ou compravam uma casa eram em sua maioria privilegiadas e/ou possuíam divisas ou outros "relacionamentos". Somente nos anos 1980 é que a situação da moradia se tornou boa para muitas pessoas. Havia muito poucos "sem-teto"; só aqueles que não queriam morar em casas. Eles moravam em gazebos (casas de jardim) ou em trailers; Os jovens e as pessoas "alternativas" ocupavam casas destruídas para protegê-los contra a demolição (o que era ilegal, mas muitas vezes tolerado).


Você me contou certa vez que foi preso na DDR. O que aconteceu?


Tendo em vista que minha mãe fez um “pedido de saída” e nós, filhos, também tínhamos que fazer isso depois de atingirmos a maioridade, eu enviei um quando tínhamos 18 anos. Meu pedido foi rejeitado após dois anos, de modo que não me foi possível sair legalmente do país. Eu não queria ficar na RDA, era um regime sem liberdade para mim. Naquela época, a única saída me parecia ser deixar o país “ilegalmente”, o que era chamado na linguagem cotidiana de “Republikflucht”! Passei férias na Bulgária em 1988 e queria cruzar a fronteira com a Turquia. Fui pego na fronteira e levado de volta à prisão na RDA. Segundo o “Acordo de Helsinque” (1975), ratificado pela RDA, deixar o país não seria crime. Claro, o estado não aderiu a isso - pelas mesmas razões pelas quais o muro foi construído em 1961. Fui condenado a um ano de prisão por "fugir da república" e fiquei 6 meses preso. Depois de meio ano fui "resgatado" pelo governo da RFA (Alemanha Ocidental) - 100.000 DM (moeda estrangeira) para o governo da RDA ... por meio do escritório de advocacia Vogel em Berlim Oriental!

Fui "deportado" para a Alemanha quando o Muro ainda existia - no início de 1989. Morei na Alemanha Ocidental desde então. Muitos membros da minha família vieram mais tarde para o “Ocidente”. A prisão foi uma época difícil, e minha saúde foi prejudicada. Na RFA fui reconhecido como “preso político”, legalmente reabilitado, recebi “indenização” financeira e auxílio para recuperação.


Por que você quis fugir do país?


Eu apoiei parcialmente o sistema da RDA e a ideia de que era um “socialismo real”, mas também vivi e apontei todas as contradições que eu percebia, o que me trouxe muitos problemas. A partir de 1987, não estava mais convencido de que vivia em um país livre ou em um estado “socialista”. É por isso que eu queria ir para a “liberdade". Mudar o sistema não era possível na época porque todas as oposições eram perseguidas e reprimidas, com algumas exceções (grupos religiosos). Ninguém poderia imaginar, um ano antes, que as coisas ocorreriam tão rápido como foi em 1989, com a queda do Muro de Berlim, a queda da ditadura do SED e a desintegração interna do aparelho de Estado. E isso mesmo com os grandes protestos que já se espalhavam pela população em meados dos anos 80 (petições, pedidos de saída do país, discussões em escolas e empresas, em grandes shows em Berlim e em protestos ambientais). Milhões de pessoas na RDA estavam insatisfeitas com o estado, com o governo e com uma economia quebrada: toda a falta de liberdade política e pessoal. Acima de tudo, o povo estava farto de “debater frases”, paternalismo e opressão. Muitos simplesmente sentiram que o sistema estava "no fim"... mas por muito tempo ninguém quis "dar o primeiro passo"!


Por que foi criado o Muro de Berlim?


Na antiga “zona de ocupação soviética” (no território da RDA), os primeiros passos em direção a uma “democracia popular” foram dados sob a liderança da então ainda socialista União Soviética e de Stalin. Junkers, criminosos de guerra e fascistas foram expropriados e punidos (não todos). Houve uma “reforma agrária”, mas foi ordenada de cima para baixo (sem ampla discussão e conscientização) - em parte com a violência da “administração”. Partidos democráticos e sindicatos antifascistas eram permitidos. Mas tudo foi feito muito rapidamente, de forma prematura e sem uma consciência revolucionária das massas, como por exemplo o processo de unificação do KPD e partes do SPD sob pressão e coerção, mesmo com os avisos de ambos os partidos e sindicatos.

Quando Stalin morreu em 1953, mais e mais “burocratas do partido” tomaram a dianteira na RDA: funcionários que não tinham consciência revolucionária ou de classe e estavam exilados na SU durante a guerra, como Ulbricht (que mais tarde mandou construir o muro). Ao contrário de Thälmann, proletário e presidente do KPD assassinado no campo de concentração de Buchenwald em 1945, eles não tinham experiência real na luta de classes revolucionária. Esses burocratas queriam prescrever a introdução do socialismo a partir de uma “ordem democrática popular”, “de cima para baixo”. Assim, em 1953, ocorreu a “revolta popular de junho”, na qual grande parte da classe trabalhadora protestou contra as normas excessivas de trabalho, os baixos salários e certa escassez de víveres (justificado). Isso foi usado ao mesmo tempo pela "inimiga de classe" (Alemanha Ocidental) e pelo imperialismo estadunidense para provocar e às vezes também para iniciar a sabotagem (por exemplo, no "triângulo da química") e para iniciar uma ampla propaganda anticomunista contra o "socialismo real" (como no filme One, Two, Three de Hollywood (1961)).

Após a derrota do levante de junho de 1953, no qual o Exército Soviético "varreu" os protestos com tanques e unidades de fuzil motorizadas nas ruas (com mortos e feridos), e no qual a "polícia" e o serviço secreto russo NKVD agiram contra os "contrarrevolucionários", negando assim o protesto justificado das  massas, o povo começou então a fugir em massa para o oeste. A RDA havia perdido a luta entre os dois “sistemas” da época (no chamado “voto com os pés”). É por isso que o muro foi construído, para evitar que a RDA “sangrasse”, caso contrário, a guerra poderia ter estourado. Com essa medida ditatorial contra a população, os refugiados foram prejudicados, mas também ficou claro para todos que o povo não tinha poder, tal como deve ser no socialismo verdadeiro (a “ditadura do proletariado”). Os burocratas do partido SED assumiram os negócios na política, na administração, e a partir de meados da década de 1950, o caminho para um estado “socialista” foi interrompido (até então, a “ordem democrática popular” era usada como uma fase de transição).


Na sua opinião, a DDR foi um estado socialista?


Como eu disse, quando adolescente eu não estava totalmente convencido. Então, com a idade de 16/17 anos, ficou claro para mim que aquele não era um socialismo “verdadeiro”. Lá pude conhecer a prática e a luta de classes nas fábricas/canteiros de obras, a forma como os "Apparatchiks" sufocavam qualquer iniciativa. Havia uma piada na RDA que resumia a situação da seguinte forma: "No capitalismo, o homem é explorado pelo homem - no socialismo real é exatamente o contrário!"

Hoje eu sei: em 1945, na área da “zona de ocupação soviética”, havia a esperança de uma alternativa em direção a uma “ordem democrática popular”; de 1953 a 1956, isso acabou se transformando em um “capitalismo burocrático”, não obstante as conquistas sociais, as reformas políticas e todas as “frases” socialistas que se fizeram presentes até o final (1989).


Qual a sua avaliação política sobre o revisionismo na DDR? Quando começou? Teve alguma relação com o revisionismo na União Soviética?


Recomendo a todos os interessados na RDA o livro Socialismo no fim?, de Willi Dickhut (da editora https://www.neuerweg.de). Após a reunificação da Alemanha, conheci o MLPD (Partido Marxista-Leninista da Alemanha) e a obra de Willi Dickhut. Mas também as obras de Stalin e Mao, que não eram acessíveis na RDA! Quando li os 2 volumes da biografia de Dickhut, tudo o que experimentei na RDA fez sentido. Todas as contradições foram resolvidas com a ajuda da crítica dos princípios e da autocrítica. Um camarada do MLPD, que conheci na época, ajudou nisso. Também um trabalhador como eu!

O revisionismo na RDA residia na falta de fundamentos ou de consciência de classe, de consciência socialista na classe trabalhadora quando a RDA foi fundada como um estado. Não houve revolução ou partido revolucionário de massas que destruiu o velho estado. A “Nova Ordem” foi dirigida e controlada pela administração da ocupação soviética em 1945. Entre outras coisas: a união sem princípios de KPD e SPD trouxe carreiristas, burocratas, socialdemocratas e todas as suas formas de pensar e sentimentos pequeno-burgueses, moral e prática em primeiro plano, o que também levou à degeneração na liderança do partido e do estado de 1953 a 1958 (5º congresso do partido do SED). O desejo sincero de unidade antifascista após a guerra encobriu os erros cometidos pelo KPD e SPD antes da guerra em ambos os lados (e crítica honesta e aberta e autocrítica para esclarecer as causas da tomada do poder por Hitler) e não poderia educar as massas, assim, para fornecer essas formas socialmente necessárias de consciência e discussões após a guerra. “Vanguarda” funciona de forma diferente!

A URSS também se tornou, a partir XX congresso do partido em 1956 sob Kruschev, um regime burocrático-capitalista. A liderança do Partido Comunista sob Stalin já havia mostrado desenvolvimentos “críticos” durante e após a Segunda Guerra Mundial. Isso não foi culpa dele sozinho!


No episódio da queda do Muro de Berlim, havia grandes protestos de massas. O que essas massas queriam? Quais eram as pautas concretas? Você acha que houve interferência da CIA ou dos países capitalistas?


As massas queriam liberdade de viagem e expressão, eleições livres e mídia sem censura. Livre escolha profissional, liberdade religiosa, proteção ambiental e, alguns, um “socialismo humano”; o regime do SED e do serviço secreto deveriam ser dissolvidos e os assassinatos no muro deveriam ser julgados!

O lema principal era: “Nós somos o povo!”. Muitos também estavam com medo de tomar as ruas, já que o massacre em Pequim ocorrera meses antes na praça Tieanamen. Mas muitos outros cidadãos da RDA não tinham mais medo e estavam prontos para sacrificar suas vidas. Eu também me sentia da mesma forma.

Em caso de massacre, poderia ter havido uma guerra civil na RDA. Todos tinham medo disso na época, especialmente os figurões do SED, a segurança do estado e a liderança do NVA (Exército Nacional do Povo).

Depois de alguns meses (já era 1990), o governo da RFA (Alemanha Ocidental) e o capital monopolista viram sua chance: como a União Soviética, a "potência protetora" da RDA, revelou um regime mórbido com a “Glasnost & Perestroika” de Gorbachev, bastou um acordo de bilhões de dólares para que a URSS deixasse livre o caminho para a “reunificação”. E isso continua a ter efeitos até hoje (ver anexo da Crimeia + “Nord Stream II”).

A partir da primavera de 90, o slogan “Somos um só povo” se espalhou a partir das mídias ocidentais em toda a Alemanha Oriental (jornal Bild!). Os serviços secretos de França, Inglaterra e EUA tentaram, através tanto da mídia (RIAS, BBC, Radio France) quanto através de outros canais (econômico-políticos, culturais e diplomáticos) influenciar a reunificação em seu favor.

Os partidos ocidentais compraram sua entrada nas lideranças dos partidos e movimentos civis da RDA, a fim de que a primeira eleição “livre” na RDA (março de 1990) pudesse realizar o que o capitalismo da Alemanha Ocidental e o capital financeiro internacional desejavam, como a “reforma da moeda” em junho de 1990, por exemplo. Assim, a “história da RDA” foi reescrita pelos vencedores e o estado foi liquidado! Uma tremenda onda de anticomunismo moderno espalhada sobre todo o país ainda hoje se faz sentir.


Havia uma oposição marxista-leninista na DDR?


Todas as tentativas anteriormente conhecidas de “comunistas” ou “marxista-leninistas” da Alemanha Ocidental para começar um trabalho na RDA nos anos 70 ou 80 foram rapidamente cortadas pela raiz pelo “Serviço de Segurança do Estado”. Mas eu só conheço esses casos através de terceiros.


Que autocrítica a esquerda deve fazer sobre a DDR? Que ensinamentos podemos extrair desta experiência?


A “esquerda” na Alemanha (quero dizer o partido Die Linke e o DKP) nunca comentou de forma honesta, aberta e voluntária sobre os erros políticos da RDA (ou URSS), os crimes da "Staasi", as tropas de fronteira e a escassez burocrática na economia – apenas alguns camaradas fizeram isso, mas de forma individual. Sobre a degeneração burocrática, a traição da estrutura socialista e a mudança para o regime burocrático-capitalista, nada se ouviu de ambos.

Eu mesmo reconheci, entre outros, nos ensinamentos de Mao (revolução cultural) e de W. Dickhut em seu livro Restauração do Capitalismo na União Soviética ensinamentos importantes para a construção de um partido marxista-leninista revolucionário, de um verdadeiro socialismo, para a revolução e a ditadura do proletariado. 

Um conselho importante que daria é: trabalhar juntos internacionalmente, aprender com a experiência de todos os revolucionários, não repetir os erros dos outros, o que é a essência da “doutrina do modo de pensar”. Esta pedra fundamental do pensamento de Willi Dickhut e do MLPD é muito importante, também a nível mundial (fundação do ICOR)! Já são 50 anos de construção de um partido revolucionário em um país imperialista como a Alemanha, e estamos procurando nossos iguais em todo o mundo!

A economia paralela na URSS: Como tudo começou

A economia paralela na URSS: Como tudo começou 
por Valentine Katassonov

"A economia paralela, enquanto fenômeno assinalável, surgiu no final dos anos 50, princípios dos anos 60. Todos os investigadores univocamente relacionam este fenômeno com a chegada ao poder de Khruchov, que a par de outras decisões irrefletidas, fez sair da garrafa o gênio da economia paralela. É de assinalar que até aqueles autores que fazem uma apreciação bastante negativa da figura de Stáline, são obrigados a reconhecer que no período em que Stáline esteve no poder, não havia praticamente economia paralela ou clandestina. Em contrapartida havia a pequena produção mercantil, nomeadamente as cooperativas artesanais e industriais nas cidades. Khruchov liquidou a pequena produção mercantil, e o seu lugar foi ocupado pela economia paralela."

"Os donos de negócios ilegais acumularam capitais tão importantes que puderam começar a fazer lobby junto do poder político do País. Mas os limites do modo de produção socialista, mesmo que já só formais em muitos aspectos, tornaram-se apertados para os empresários da economia paralela. Começaram então a preparar a restauração completa do capitalismo. Isso aconteceu no período em que Gorbatchov estava no poder, sob a capa das consignas falsas lançadas na perestroika. Esta perestroika, em última análise, foi iniciada não por Gorbatchov ou Iákovlev. Ela foi organizada pelo capital clandestino, por ordem de quem agiram os «reformadores» do PCUS."

A questão sobre a derrocada e destruição da URSS está longe de ser fútil. Ainda hoje, passados 22 anos do desaparecimento da URSS, não perdeu a sua actualidade. Porquê? Porque, na base deste acontecimento, alguns tiram a conclusão de que o modelo económico capitalista é mais competitivo, mais eficiente e não tem alternativa. Após a derrocada da URSS, o politólogo norte-americano, Francis Fukuyama, apressou-se mesmo a proclamar o advento do «fim da história»: a humanidade teria atingido a fase superior e última do seu desenvolvimento na forma do capitalismo universal, global.


A actualidade do estudo da economia paralela na URSS 

Na opinião de politólogos, sociólogos e economistas deste tipo, o debate do modelo econômico socialista não merece a mínima atenção. É melhor concentrar todos os esforços no aperfeiçoamento do modelo econômico capitalista, isto é, no modelo que orienta todos os membros da sociedade para o enriquecimento, e em que este enriquecimento (a obtenção de lucro) se faz mediante a exploração de uma pessoa por outra. É certo que deste modo emergem as características «naturais» do modelo capitalista, como a desigualdade social e material, a concorrência, as crises cíclicas, as falências, o desemprego, e tudo o mais. Todos os aperfeiçoamentos que se propõem visam apenas atenuar as consequências desumanas do capitalismo, o que faz lembrar como são vãs as tentativas de limitar o apetite do lobo que está a devorar uma ovelha.

Partiremos do pressuposto de que as características sociais e económicas principais do modelo socialista são a garantia do bem-estar de todos os membros da sociedade (objectivo), a propriedade social dos meios de produção (meio principal), a obtenção de rendimentos exclusivamente do trabalho, o carácter planificado da economia, a centralização da direcção da economia nacional, a detenção pelo Estado das alavancas de controlo, os fundos sociais de consumo, o carácter limitado das relações monetário mercantis, etc.

Entendemos por bem-estar não só o acesso a produtos e serviços, que asseguram a satisfação das necessidades vitais (biológicas) humanas. Aqui devemos também incluir a segurança social e a protecção, a educação, a cultura, as condições de trabalho e repouso.

É claro que o socialismo não é apenas economia e relações sociais. Ele pressupõe igualmente um determinado tipo de poder, de ideologia e um elevado nível de desenvolvimento espiritual e moral da sociedade, entre outros. Elevadas necessidades espirituais e morais devem pressupor as mais altas aspirações no que toca aos objectivos sociais e econômicos. É precisamente sobre o aspecto social e econômico do modelo socialista que nos vamos concentrar.

Pois bem, a erosão do modelo socialista começou muito antes dos acontecimentos trágicos de Dezembro de 1991, quando foi assinado o vergonhoso acordo sobre a divisão da URSS na floresta de Bieloveja.2  Este foi o acto final do regime político. É a data não só da morte da URSS, mas a da completa legalização do novo modelo social e econômico, que se chama «capitalismo». No entanto, o capitalismo oculto amadureceu no seio da sociedade soviética ao longo de cerca de três décadas. A economia soviética há muito que tinha adquirido, de facto, traços de uma economia multiforme. Nela conjugavam-se estruturas socialistas e capitalistas. Aliás, alguns investigadores e políticos estrangeiros consideraram que a completa restauração do capitalismo na URSS teve lugar logo nos anos 60 e 70. Nomeadamente, logo no início dos anos 60, Willi Dickhut,3  membro do Partido Comunista Alemão, iniciou uma série de artigos nos quais constatava que, com a chegada ao poder de N.S. Khruchov, ocorreu (não começou, mas sim ocorreu!) a restauração do capitalismo na URSS.4

A economia paralela funcionava segundo princípios distintos dos socialistas. De uma forma ou doutra, estava ligada à corrupção, à delapidação do patrimônio do Estado, à obtenção de rendimentos não provenientes do trabalho, à violação das leis (ou utilização de «buracos» na legislação»). Mas não se deve confundir a economia paralela com a economia «não-oficial», que não contrariava as leis e os princípios da sociedade socialista, mas apenas complementava a economia «oficial». Isto refere-se primeiramente à actividade laboral individual, por exemplo, o trabalho do kolkhoziano na sua parcela pessoal ou do citadino no quintal da sua casa de campo. E na melhor época (sob Stáline), as cooperativas de produção, que se dedicavam à produção de artigos de consumo e aos serviços, conheceram um amplo desenvolvimento.

Na URSS, as autoridades estatais e partidárias preferiram não encarar o fenômeno da economia paralela. É claro que os órgãos judiciais descobriam e desmontavam diferentes operações na esfera da economia paralela. Mas os dirigentes da URSS, confrontados com tais episódios, fugiam ao assunto com frases do tipo «insuficiências isoladas»,«deficiências», «erros», etc. Por exemplo, no início dos anos 60, o então primeiro-vicepresidente do Conselho de Ministros da URSS, Anastás Mikoian, definiu o mercado negro na URSS como «uma mão cheia de espuma suja, que flutua à superfície da nossa sociedade».


A economia paralela na URSS: algumas avaliações

Até ao final dos anos 80 não existiam na URSS quaisquer investigações sérias sobre a economia paralela. As primeiras surgiram no estrangeiro. Desde logo deve-se referir o trabalho do sociólogo norte-americano, Gregory Grossmann (Universidade da Califórnia), intitulado A Autonomia Destruidora. O Papel Histórico de Tendências Reais na Sociedade Soviética. Este trabalho teve grande divulgação ao ser publicado, em 1988, na colectânea Luz ao Fundo do Túnel (Universidade Berklay, sob coordenação de Stephen F. Cohen). No entanto, o primeiro artigo de Grossmann sobre este tema surgiu ainda em 1977 com o título «A segunda economia da URSS» (revista Problemas do Comunismo, Setembro/Outubro de 1977).

Também se pode referir o livro do jurista soviético, emigrado nos EUA, Konstantine Simissa, Corrupção na URSS – O Mundo Secreto do Capitalismo Soviético, editado em 1982. O autor teve ligações estreitas nos anos 70 com alguns elementos da economia paralela, dos quais foi advogado em processos judiciais. Porém, K. Simi ss, não fazqualquer avaliação quantitativa da economia paralela.

Mais tarde surgiram trabalhos dos sociólogos e economistas norte-americanos de descendência russa, Vladimir Treml e Mikhail Alekséiev. A partir de 1985, Gregory Grossmann e Vladimir Treml editam periodicamente colectâneas sobre a economia paralela na URSS. A edição manteve-se até 1993, tendo sido publicadas 51 investigações realizadas por 26 autores. Muitas investigações baseavam-se em inquéritos sociológicos realizados juntos de famílias emigrantes da URSS (ao todo foram entrevistadas 1061 famílias). Foram também utilizados inquéritos a emigrantes de outros países socialistas, estatísticas oficiais da URSS, materiais publicados na imprensa generalista e nas revistas científicas da União Soviética. Apesar de as avaliações quantitativas variarem consoante os autores, tais discrepâncias não são fundamentais. As diferenças devem-se ao facto de uns autores analisarem a «economia não-oficial» e outros a «economia paralela». Deste modo, as avaliações de uma e outra não podiam coincidir.

Vejamos alguns resultados destas investigações.

1. Em 1979 a produção ilegal de vinho, cerveja e outras bebidas alcoólicas, bem como a revenda especulativa de bebidas alcoólicas, produzidas na economia «oficial», gerava receitas equivalentes a 2,2 por cento do PIB (Produto Interno Bruto).

2. Nos finais dos anos 70, o mercado paralelo de gasolina prosperava na URSS. Entre 33 a 65 por cento dos abastecimentos de automóveis particulares, nas regiões urbanas do país, eram feitos com gasolina vendida por motoristas de empresas e organizações do Estado (a gasolina era vendida a preços inferiores aos fixados pelo Estado).

3. Nos cabeleireiros soviéticos, as receitas não declaradas superavam o montante que os clientes pagavam através da caixa. Isto é um dos exemplos de que algumas empresas do Estado pertenciam, de facto, à economia paralela.

4. Em 1974, o trabalho em terrenos particulares representava quase um terço das horas de trabalho dispendidas na agricultura, que constituíam quase dez por cento de todo o tempo de trabalho na economia da URSS.

5. Nos anos 70, cerca de um terço da produção da agricultura provinha das parcelas particulares, e uma parte significativa dessa produção era escoada nos mercados dos kolkhozes.

6. No final dos anos 70, cerca de 30 por cento dos rendimentos da população urbana eram obtidos em diferentes tipos de actividades privadas, tanto legais como ilegais.

7. No final dos anos 70, a «economia paralela» ocupava entre dez a 12 por cento do total da força de trabalho da URSS.

No final os anos 80 surgiu na URSS uma série de trabalhos sobre a economia paralela. Em primeiro lugar temos as publicações da economista soviética, Tatiana Koriáguina, e do director do Instituto de Investigação Científica do Gosplan, Valéri Rutgueizer. Eis alguns dados da investigação de T. Koriáguina: 

No início dos anos 60, o valor anual das mercadorias e serviços produzidos e vendidos ilegalmente representava cinco mil milhões de euros, enquanto no final dos anos 80 já atingia cerca de 90 mil milhões de rublos. Em 1960, o PIB da URSS (preços correntes) era de 195 mil milhões de rublos e, em 1990, de 701 mil milhões de rublos. Deste  modo, a economia da URSS, em 30 anos cresceu 3,6 vezes, enquanto a economia paralela cresceu 14 vezes. Se em 1960, a economia paralela representava 3,4 por  cento do PIB oficial, em 1988 esta proporção era já de 20 por cento. E se é verdade que o seu peso caiu para 12,5 por cento em 1990, tal ficou a dever-se à alteração da legislação soviética que legalizou uma série de actividades econômicas privadas, antes consideradas ilegais.

Segundo a avaliação de Koriáguina, a economia paralela empregava seis milhões de pessoas, número que subiu para 17-20 milhões de pessoas em 1970 (6-7 por cento da população), e atingiu os 30 milhões em 1989, ou seja, 12 por cento da população da URSS.

Perigos e consequências do desenvolvimento da economia paralela na URSS

Os investigadores, tanto soviéticos como norte-americanos, analisaram algumas especificidades da economia paralela e a sua influência na situação geral da URSS.

1. A economia paralela, enquanto fenômeno assinalável, surgiu no final dos anos 50, princípios dos anos 60. Todos os investigadores univocamente relacionam este fenômeno com a chegada ao poder de Khruchov, que a par de outras decisões irrefletidas, fez sair da garrafa o gênio da economia paralela. É de assinalar que até aqueles autores que fazem uma apreciação bastante negativa da figura de Stáline, são obrigados a reconhecer que no período em que Stáline esteve no poder, não havia praticamente economia paralela ou clandestina. Em contrapartida havia a pequena produção mercantil, nomeadamente as cooperativas artesanais e industriais nas cidades. Khruchov liquidou a pequena produção mercantil, e o seu lugar foi ocupado pela economia paralela.

2. A economia paralela estava mais desenvolvida nas regiões centrais da URSS do que na periferia do país. Grossmann estimou que, no final dos anos 70, os proventos com origem na economia paralela representavam cerca de 30 por cento dos rendimentos da população urbana da URSS. Na República da Rússia, estes proventos estavam em linha com a média nacional, mas na Bielorrússia, Moldávia e Ucrânia elevavam-se a cerca de 40 por cento, e na Transcaucásia e Ásia Central atingiam quase 50 por cento dos rendimentos da população urbana. Na Armênia, entre os nacionais armênios, este indicador disparava para 65 por cento. A hipertrofia da economia paralela numa série de repúblicas da União criava a ilusão de que tais repúblicas eram «auto-suficientes». Dado que parecia que tinham um nível de vida mais elevado do que na Rússia, então podiam subsistir e desenvolver-se à parte da URSS. Tudo isto criou um terreno propício para movimentos nacionais separatistas nas repúblicas.

3. A economia paralela existia à custa dos recursos do Estado. Uma parte significativa das suas actividades só podia ser desenvolvida mediante a delapidação dos recursos materiais das empresas e organizações do Estado. No entanto, criou-se a ilusão de que a economia paralela complementava as insuficiências da economia oficial. O que acontecia na realidade era uma «redistribuição» dos recursos do sector estatal (e kolkhoziano) para a economia paralela.

4. A economia paralela gerava corrupção. Os proprietários de estruturas clandestinas subornavam dirigentes e funcionários das empresas e organizações do Estado. Para quê?Para que, no mínimo, não perturbassem os negócios escuros; no máximo, se tornassem cúmplices, colaborando no fornecimento de matérias-primas, mercadorias, meios de transporte, etc. Este era o primeiro nível, microeconómico, da corrupção. Seguia-se o nível regional, que estava ligado ao suborno dos órgãos judiciais e em geral dos órgãos regionais de poder de Estado. Criou-se assim um sistema de protecção regional dos negócios ilegais. Por fim, a corrupção atingiu o terceiro nível no Estado central. Os homens da economia paralela começaram a fazer lobby em prol dos seus interesses econômicos nos ministérios e departamentos. A economia apenas formalmente continuava a desenvolver-se de forma planificada e as decisões econômicas directoras começaram a ser tomadas ao nível central sob influência dos homens da economia paralela.

5. Os donos de negócios ilegais acumularam capitais tão importantes que puderam começar a fazer lobby junto do poder político do País. Mas os limites do modo de produção socialista, mesmo que já só formais em muitos aspectos, tornaram-se apertados para os empresários da economia paralela. Começaram então a preparar a restauração completa do capitalismo. Isso aconteceu no período em que Gorbatchov estava no poder, sob a capa das consignas falsas lançadas na perestroika. Esta perestroika, em última análise, foi iniciada não por Gorbatchov ou Iákovlev. Ela foi organizada pelo capital clandestino, por ordem de quem agiram os «reformadores» do PCUS.5


Notas

1 Valentine Iúrievitch Katassonov (1950) licenciou-se no Instituto Estatal de Relações Internacionais – MGIMO (1972), onde seguiu a carreira académica tornando-se professor da cátedra de Finanças Internacionais. Doutorado em Ciências Económicas, chefiou entre 2001 e 2011 a cátedra de Relações Internacionais de Crédito e Divisas do MGIMO, adstrita ao Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia. Entre 1991 e 1993 foi consultor da ONU, no departamento de Problemas Económicos e Sociais. De 1993 a 1996 integrou o conselho consultivo do presidente do Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BERD). Autor de dezenas de obras sobre temática econômica, é actualmente presidente da Associação Russa de Economia S.F. Charapov. Serguei Fiódorovitch Charapov (1855-1911) foi um economista e político russo, aristocrata eslavófilo, que preconizava um modelo de desenvolvimento «genuinamente russo», em oposição ao capitalismo ocidental, assente na autocracia, na igreja ortodoxa e nas especificidades do povo russo. Inspirada nas ideias de Charapov, a referida Associação afirma-se contrária à adesão da Rússia à Organização Mundial do Comércio e alerta para os perigos da transformação do país numa mera colônia da oligarquia financeira mundial. Como se pode ler no seu site (reosh.ru), a Associação pretende «dar um impulso à união dos empresários russos para a realização de projectos conjuntos, ajudar todos os russos a se libertarem das concepções econômicas liberais e a formarem a sua visão nacional da economia». Pelo exposto fica claro que o autor não parte de concepções marxistas para a análise de aspectos relevantes da história da URSS, como aqueles que são tratados no presente texto, publicado no dia 3 de Fevereiro, bem como noutros trabalhos, que contamos oportunamente divulgar. (N. Ed.)

2 O acordo de Bieloveja (na Bielorrússia), sobre a criação da Comunidade de Estados Independentes e a extinção da União das Repúblicas Soviéticas Sociatistas (URSS), foi assinado, a 8 de Dezembro de 1991, pelos líderes das repúblicas soviéticas da Rússia (RSFSR), da Bielorrúsia e da Ucrânia, respectivamente Boris Éltsine, Stanislav Chukevitch e Leonid Kravchuk. (N. Ed.)

3 Willi Dickhut (1904-1992), serralheiro e torneiro mecânico, entrou para o partido Comunista da Alemanha em 1926. Viveu oito meses na URSS (1928-1929), onde trabalhou como operário especializado. Regressado à Alemanha, é eleito em Março de 1933 membro da Assembleia Municipal da cidade de Soligen (região administrativa de Dusseldorf, estado da Renânia do Norte-Vestfália),mas é forçado a passar à clandestinidade pouco depois, na sequência da ascensão de Hitler ao poder.Preso em 1938, é condenado a de 21 meses de prisão. É novamente preso em Agosto de 1944, mas os bombardeamentos dos aliados dão-lhe uma oportunidade de fuga em Novembro do mesmo ano. Depois de 1945, integra a direcção do partido como responsável adjunto pela secção de quadros. Em 1966, após se ter manifestado criticamente sobre a situação na URSS, é expulso do partido (DKP). Liga-se mais tarde ao Partido Comunista da Alemanha (marxista-leninista). Em 1972 participa na fundação da Liga Operária Comunista da Alemanha, que vem a integrar o Partido Marxista-Leninistada Alemanha, fundado em 1982. O seu principal trabalho, e base teórica das formações políticas que dirige, é o livro A Restauração do Capitalismo na União Soviética, publicado em várias partes entre o início dos anos 1971 e 1988. (N. Ed.)

4 A tese sobre a restauração completa do capitalismo na URSS nos anos 50, 60 ou 70 suscita fundadas objecções. Não para contraditar o autor, que nos fornece informação importante sobre a URSS, vale no entanto a pena citar a este propósito uma passagem do artigo «A restauração do modo de produção capitalista na União Soviética», publicado pela revista italiana Rapporti Sociali: «É inconsistente a tese que afirma que a restauração do modo de produção capitalista na URSS se realizou nos anos 50. (…) Apesar de numerosas tentativas e experiências, Khruchov, Kossíguine e Bréjnev nunca chegaram a introduzir à escala geral a gestão da economia mediante o “cálculo econômico”, como lhes chamavam, ou a “autonomia financeira” das unidades produtivas; ou seja, através do rendimento em dinheiro resultante da actividade da cada unidade produtiva. Por isso nunca chegaram a converter o mercado (ou, como diziam, “os contactos directos entre as unidades produtivas”) em regulador geral da actividade econômica. O comércio externo continuou a ser monopólio do Estado. A força de trabalho só marginalmente foi reduzida à condição de mercadoria (a liberdade de compra e venda é uma característica essencial da sua natureza de mercadoria). A planificação econômica dos países socialistas, inclusivamente lá onde se mostrava ineficaz, a única coisa que tinha em comum com o monopólio que existia nos diferentes sectores dos países imperialistas era a aparência; com efeito, o que é específico do monopólio na sociedade burguesa é a obtenção de um super lucro em relação a outros sectores do capital, que continuam operando em condições de concorrência. O facto de se ter esquecido tudo isto e falar de restauração do capitalismo levou inevitavelmente a uma crítica idealista dos revisionistas modernos, ou seja, a uma crítica que punha em primeiro plano a superstrutura (a política e a cultura) e em segundo plano a estrutura económica. (…)

(http://www.hist-socialismo.com/docs/Restauracao CapitalismoURSS.pdf) (N. Ed.)

5 O tema da economia paralela na URSS é tratado com grande profundidade no livro de Roger Keeran e Thomas Kenny, O Socialismo Traído – Por Trás do Colapso da União Soviética, Edições Avante!, Lisboa, 2004. (N. Ed.)

O povo soviético não queria a dissolução da URSS

Em 17 de março de 1991 ocorreu na União Soviética um referendo sobre sua manutenção. Mas um importante setor do aparato estatal, liderado por Yeltsin e Gorbachev, estava empenhado em acabar com a existência da União e do socialismo. Os agentes do imperialismo souberam aproveitar a debilidade e a política capitulacionista de Gorbachev para confrontar etnicamente os distintos povos que formavam toda a União. Neste contexto foi realizado este referendo.

Mais de 148 milhões de pessoas votaram naquele dia, sendo 77,8% a favor da manutenção da URSS, como no quadro abaixo:

República Socialista Soviética
% a favor da manutenção da URSS
Azerbaijão
94,1
Bielorrúsia
82,7
Casaquistão
95,6
Quirguistão
94,5
Rússia
71,3
Tadjiquistão
96,2
Turcomenistão
98,3
Ucrânia
70,2
Usbequistão
94,8


As outras seis repúblicas sabotaram o referendo, passando por cima de suas próprias leis (Lituânia, Letônia, Estônia, Moldávia, Armênia e Geórgia). Apesar de o referendo não ter ocorrido oficialmente nestas repúblicas, elas aconteceram, no entanto, em alguns de seus distritos. Os resultados foram ainda mais favoráveis. Das seis repúblicas que realizaram a sabotagem, três são hoje membros da OTAN.

Com informações de Cultura Bolchevique

Críticos exigem julgamento de Gorbachev por alta traição


Um pedido de abertura de processo criminal foi solicitado ao Comitê de Investigação da Rússia contra o ex-presidente da URSS, Mikhail Gorbachev.

A iniciativa foi do Sindicato dos Cidadãos da Rússia, cujos membros tem organizado piquetes nas ruas de Moscou para conscientizar novos colaboradores. Aproximadamente 25 pessoas estão mobilizadas neste processo.

"Após o 20º aniversário da desintegração da URSS temos que relembrar o povo do papel que Gorbachev desempenhou nisso", afirma Nil Iogansen, porta-voz da organização.

Gorbachev é criticado na Rússia pelas reformas econômicas que adotou e que levaram a URSS ao colapso. Ele é apontado como o grande culpado da dissolução da União, o que levou a Rússia a um caos econômico e político.

Mais uma do camarada Koba!


3 de outubro é a data comemorativa da reunificação das Alemanhas divididas no pós-guerra. Há exatos 21 anos houve essa junção, ou, como muitos dizem, a anexação da Alemanha Oriental pela Ocidental, depois da derrota da União Soviética e a derrocada dos regimes comunistas no leste europeu.

A reunificação, portanto, seria um processo ainda em curso, e que levará anos e gerações. De qualquer modo, 3 de outubro é um dia de festa na Alemanha e particularmente em Berlim, a cidade destruída pela guerra e depois fraturada pelo Muro, esse grande equívoco histórico do regime comunista.

Seja como for, há um dado interessante a ser lembrado. A primeira Alemanha a se constituir legalmente foi a Ocidental. A criação da Alemanha Oriental foi uma reposta a este gesto "separatista", ambas gestadas ainda na década de 40.

A primeira proposta séria de reunificação das Alemanhas partiu de quem? Do camarada Koba, aliás, Josef Stalin, imaginem! (Ossip Koba era o nome de guerra do camarada nos tempos de clandestinidade no Partido Comunista). Foi feita num documento chamado de "Nota de Março", em 1952, através do chanceler Andrei Gromyko. Stalin propunha às potências ocidentais a criação de uma só Alemanha, unificada e desmilitarizada.

Ao longo do ano a proposta acabou rejeitada, à luz da doutrina mantida, sobretudo, pelos Estados Unidos a partir de um documento identificado pela sigla NSCR 68 (National Security Council Report 68), de 1950 (ainda ao tempo de Truman como presidente), mas também à luz do medo atávico da França e da Inglaterra de uma Alemanha unida. Também colaborou para a rejeição a avaliação de que uma Alemanha unificada, desmilitarizada e neutra na Guerra Fria que já galopava pelo mundo acabaria sendo inevitavelmente atraída para a órbita soviética.

A proposta de Stalin colocou a política norte-americana diante de um dilema. A primeira face do dilema era a de que ele poderia estar fazendo uma mera jogada para a platéia mundial, e assim encurralar os Estados Unidos num canto do ringue, além de caracteriza-los como "inimigos eternos" da unidade alemã. Stalin propunha uma Alemanha, livre, com liberdade de imprensa, pluripartidarismo (!), eleições livres, liberdade religiosa, etc.

Também propunha que um ano depois da adoção da proposta as potências vencedoras da Segunda Guerra (o Brasil também foi um vencedor da Segunda Guerra, mas não era uma potência...) deveriam retirar seus exércitos do território alemão. Além disso, a Alemanha deveria ter acesso irrestrito ao mercado internacional – e não deveria ter alianças militares.

A segunda face, porém, foi trazida à baila por James Warburg, banqueiro norte-americano nascido na Alemanha, num depoimento perante o senado em Washington, ainda no mês de março, logo após Gromyko ter entregado a famosa nota aos representantes das potências ocidentais. Warburg, que fora conselheiro de Roosevelt (embora se afastasse dele por causa de certas medidas do New Deal...) e era membro do Conselho de Relações Exteriores, afirmou que uma das dúvidas do governo norte-americano era a de que Stalin poderia muito bem não estar blefando ao fazer a proposta.

Isso poderia trazer muito mais incômodo para a posição norte-americana que, na época, à luz do NSCR 68, privilegiava a consolidação das posições militares ao invés da ação diplomática. A principal objeção norte-americana à proposta era a de que uma Alemanha livre deveria ter a liberdade de integrar a OTAN, cuja criação datava de 1949, e fora acelerada a partir de 1950 com a deflagração da Guerra da Coréia.

A proposta também não teve acolhida na Alemanha Ocidental (criada em maio de 1949, meses antes da criação da Alemanha Oriental, que foi uma retaliação), pois a orientação do então chanceler Konrad Adenauer (democrata-cristão) era privilegiar a integração daquela ao Ocidente. Durante 1950 houve uma troca de mensagens cada vez mais irritadas entre a União Soviética e as potências ocidentais, até que finalmente a proposta foi considerada definitivamente fora do jogo.

Noam Chomsky é citado como um dos que considera que Stalin provavelmente não estava blefando com sua proposta. É muito possível que não estivesse mesmo, pois um estado-tampão (como ficou sendo, mal comparando, o Uruguai entre o Brasil e a Argentina no século XIX...) neutro entre a órbita soviética e o ocidente seria melhor do que a permanente linha de confronto entre as duas Alemanhas. Stalin não deixava de ter razão, como muito bem demonstrou a crise de 1961, quando quase eclodiu um confronto armado entre blindados soviéticos e norte-americanos no ponto conhecido como "Checkpoint Charlie", cujas conseqüências seriam terríveis em escala mundial.

Até hoje se debate se a adoção da proposta de Stalin teria sido melhor ou não. Vá se saber! Mais uma do camarada Koba!

Flávio Aguiar



Maioria dos alemães orientais sente que a vida era melhor no comunismo

A notícia abaixo foi publicada pelo jornal alemão burguês Der Spiegel, em 2009. Apesar da notícia não ser tão nova e não concordamos com algumas das afirmações editorais sobre a Alemanha Oriental, ainda assim consideramos que seu conteúdo, por ser um testemunho obtido diretamente do inimigo de classe, possui grande força de persuasão. A pesquisa revela a superioridade do socialismo em relação ao capitalismo, comprovada diretamente por aqueles que viveram nos dois sistemas.

Obs: A notícia original é tão tendenciosa que em seu título lemos: "Nostalgia por uma ditadura". Confira a tradução inglesa neste link.


Maioria dos alemães orientais sente que a vida era melhor no comunismo

A apologia da República Democrática Alemã está em alta, duas décadas depois da queda do muro de Berlim. Os jovens e os mais ricos estão entre os que desaprovam as críticas segundo as quais a Alemanha Oriental era um "Estado ilegítimo". Numa nova pesquisa, mais da metade dos antigos alemães orientais defende a RDA.

A vida de Birger, nascido do Estado de Mecklenburg-Pomerânia Ocidental no nordeste da Alemanha, poderia ser vista como uma história do sucesso alemão. O muro de Berlim caiu quando ele tinha dez anos. Depois de se formar no colegial, ele estudou economia e administração em Hamburgo, morou na Índia e na África do Sul, e depois conseguiu um emprego numa companhia na cidade ocidental de Duisburg. Hoje, Birger, 30, planeja velejar no Mediterrâneo. Ele não quis usar seu nome verdadeiro nesta reportagem, porque não quer ser associado à antiga Alemanha Oriental, que ele vê como "um rótulo com conotações negativas."

Mesmo assim, sentado num café em Hamburgo, Birger defende o antigo país comunista. "A maioria dos cidadãos alemães orientais tinha uma vida boa", diz ele. "Com certeza, não acho que aqui é melhor." Por "aqui", ele quer dizer a Alemanha reunificada, que ele submete a comparações questionáveis.

"No passado havia a Stasi [polícia secreta da Alemanha Oriental], e hoje existe (o ministro de interior da Alemanha Wolfgang) Schäuble - ou o GEZ (o centro de arrecadação de impostos das instituições de rádio e televisão públicas da Alemanha) - que coleta informações sobre nós." Na opinião de Birger, não há diferenças fundamentais entre a ditadura e o momento atual. "As pessoas que vivem na linha de pobreza hoje não têm liberdade para viajar."

Birger não é de forma alguma um jovem sem instrução. Ele está consciente da espionagem e da repressão que aconteceram na antiga Alemanha Oriental, e, segundo ele, "não era uma coisa boa que as pessoas não pudessem sair do país, e muitos foram oprimidos". Ele não é fã do que acredita ser uma nostalgia desprezível pela antiga Alemanha Oriental. "Eu não construí um templo para adoração dos pickles Spreewald na minha casa", disse ele, referindo-se à conserva que fazia parte da identidade da Alemanha Oriental. De qualquer forma, ele não perde tempo em argumentar contra os que criticam o lugar que seus pais chamavam de lar: "Não dá para dizer que a RDA era um estado ilegítimo, e que tudo está bem hoje".

Como um defensor da ditadura da antiga Alemanha Oriental, o jovem compartilha da visão da maioria das pessoas da parte oriental da Alemanha. Hoje, vinte anos depois da queda do muro de Berlim, 57%, ou a maioria absoluta, de alemães orientais defendem a antiga Alemanha Oriental. "A RDA tinha mais pontos positivos do que negativos. Havia alguns problemas, mas a vida era boa lá", dizem 49% dos entrevistados. Oito por cento dos alemães orientais se opõem veementemente a todas s críticas à sua antiga terra natal e concordam com a declaração: "a RDA tinha, na maior parte, pontos positivos. A vida lá era mais feliz e melhor do que na Alemanha reunificada de hoje".

O resultado dessas pesquisas, divulgado na sexta-feira em Berlim, revela que a glorificação da antiga Alemanha Oriental atingiu o cerne da sociedade. Hoje, não é mais uma mera nostalgia eterna que chora a perda da RDA. "Uma nova forma de Ostalgia (nostalgia pela antiga RDA) se constituiu", diz o historiador Stefan Wolle. "A ânsia pelo mundo ideal da ditadura vai muito além das antigas autoridades governamentais." Até os jovens que quase não tiveram experiência com a RDA a estão idealizando hoje. "O valor de sua própria história está em jogo", diz Wolle.

As pessoas estão ignorando os defeitos da ditadura, como se as críticas ao Estado fossem um questionamento de seu próprio passado. "Muitos alemães orientais percebem as críticas ao sistema como um ataque pessoal", diz o cientista político Klaus Schroeder, 59, diretor de um instituto na Universidade Livre de Berlim que estuda o antigo Estado comunista.

Ele alerta a respeito dos esforços para subestimar a ditadora SED por parte dos jovens cujo conhecimento sobre a RDA é derivado principalmente de conversas familiares, e não tanto daquilo que aprenderam na escola. "Nem mesmo metade desses jovens na parte oriental da Alemanha descrevem a RDA como uma ditadura, e a maioria acredita que a Stasi era um serviço de inteligência normal", concluiu Schroeder num estudo de 2008 feito com estudantes. "Esses jovens não podem, e na verdade não querem, reconhecer o lado sombrio da RDA."

"Retirados do paraíso"

Schroeder fez inimigos com declarações como essa. Ele recebeu mais de quatro mil cartas, algumas delas furiosas, em resposta a reportagens sobre seu estudo. Birger, de 30 anos, também enviou um e-mail para Schroeder. O cientista político agora compilou uma seleção de cartas típicas para documentar o clima opinativo no qual a RDA e a Alemanha unificada são discutidas na parte oriental da Alemanha. Parte do material proporciona um insight chocante sobre os pensamentos dos cidadãos decepcionados e irritados. "Sob a perspectiva atual, acredito que fomos retirados do paraíso quando o muro caiu", escreveu uma pessoa, e um homem de 38 anos "agradece a Deus" por ter tido a chance de viver na RDA, acrescentando que só depois da reunificação da Alemanha ele observou a existência pessoas que temiam por sua existência, pedintes e pessoas sem-teto.

A Alemanha de hoje é descrita como um "Estado de escravos" e uma "ditadura do capital", e alguns autores das cartas rejeitam a Alemanha por ser, em sua opinião, muito capitalista ou ditatorial, e certamente não democrática. Schroeder acha essas declarações alarmantes. "Temo que a maioria dos alemães orientais não se identifiquem com o atual sistema sociopolítico."

Muitos dos autores das cartas são pessoas que não se beneficiaram da reunificação da Alemanha ou que preferem viver no passado. Mas também incluem pessoas como Thorsten Schön.

Depois de 1989, Shön, um artesão de Stralsund, cidade do mar Báltico, a princípio atingiu um sucesso depois do outro. Apesar de não ser mais dono do Porsche que comprou depois da reunificação, o tapete de pele de leão que ele comprou numa viagem à África do Sul - uma das muitas que fez ao exterior nos últimos 20 anos - ainda está estendido no chão de sua sala de estar. "Não há dúvida: eu tive sorte", disse o homem de 51 anos. O grande contrato que ele conseguiu durante o período após a unificação tornou as coisas mais fáceis para Schön abrir seu próprio negócio. Hoje ele tem uma visão clara de Strelasund direto da janela de sua casa avarandada.

"As pessoas mentem e trapaceiam em todo lugar hoje"

Objetos de Bali decoram sua sala de estar, e uma versão em miniatura da Estátua da Liberdade fica ao lado do seu DVD player. Apesar de tudo, Schön senta-se no sofá e conta com entusiasmo sobre os bons e velhos tempos na Alemanha Oriental. "Antigamente, as áreas de camping eram lugares onde as pessoas desfrutavam da liberdade juntas", diz ele. O que ele mais sente falta hoje é "daquele sentimento de companheirismo e solidariedade". A economia da escassez, completada pelas trocas, era "mais como um hobby". Se ele tem uma ficha na Stasi? "Não estou interessado nisso", diz Schön. "Além do mais, seria muito desapontador."

Sua avaliação sobre a RDA é clara: "No que me diz respeito, o que tivemos naquela época foi menos ditatorial do que temos hoje". Ele quer ver salários iguais e pensões iguais para os moradores da antiga Alemanha Oriental. E quando Schön começa a reclamar da Alemanha unificada, sua voz contêm um elemento de satisfação consigo mesmo. As pessoas mentem e trapaceiam em todo lugar hoje, diz ele, e as injustiças de hoje são simplesmente perpetradas de uma forma mais astuta do que na RDA, onde não se ouvia falar de salários de fome e pneus de carro cortados. Schön não tem nada a dizer sobre suas próprias experiências ruins na Alemanha atual. "Estou melhor hoje do que antes", diz ele, "mas não estou mais satisfeito."

O pensamento de Schön envolve menos a lógica fria do que a necessidade de defender seu ponto. O que o torna particularmente insatisfeito é "o modo falso como o Oeste pinta o Leste hoje". A RDA, diz ele, "não era um Estado injusto", mas "meu lar, onde minhas conquistas eram reconhecidas". Schön repete obstinadamente a história de como levou anos de trabalho duro para ele começar seu próprio negócio em 1989 -antes da reunificação, ele acrescenta. "Aqueles que trabalharam duro também foram capazes de se dar bem na RDA". Isso, diz ele, é uma das verdades que são persistentemente negadas nos programas de debate, quando os alemães ocidentais "agem como se os alemães orientais fossem todos um pouco tolos e ainda deveriam estar de joelhos em gratidão pela reunificação". O que exatamente há para ser celebrado, Schön se pergunta?

"Memórias tingidas de cor-de-rosa são mais fortes do que as estatísticas de pessoas tentando escapar e os pedidos de vistos de saída, e ainda mais fortes do que os arquivos sobre assassinatos no muro de Berlim e sentenças políticas injustas", diz o historiador Wolle.

São as memórias de pessoas cujas famílias não foram perseguidas e vitimizadas na Alemanha Oriental, de pessoas como Birger, de 30 anos, que diz hoje: "Se a reunificação não tivesse acontecido, eu também teria tido uma vida boa".

A vida como um cidadão da RDA

Depois de se formar na universidade, diz, ele teria sem dúvida aceitado uma "posição de gerência em alguma empresa", talvez da mesma forma que seu pai, que era o presidente de uma cooperativa de fazendeiros. "A RDA não tinha nenhuma influência na vida de um cidadão da RDA", conclui Birger. Essa visão é compartilhada por seus amigos, todos eles com estudo superior e filhos de ex-alemães orientais, nascidos em 1978. "Reunificação ou não", concluiu o grupo de amigos recentemente, de fato não faz diferença para eles. Sem a reunificação, suas opções de viagem seriam Moscou ou Praga, em vez de Londres e Bruxelas. E o amigo que trabalha no governo em Mecklenburg hoje provavelmente teria sido um oficial leal ao partido na RDA.

O jovem expressa suas visões de forma equilibrada e com poucas palavras, apesar de parecer um pouco desafiador em alguns momentos, como quando diz: "Eu sei, o que estou dizendo não é tão interessante. A história das vítimas é mais fácil de contar."

Birger não costuma mencionar sua origem. Em Duisburg, onde ele trabalha, quase ninguém sabe que ele é da Alemanha Oriental. Mas nessa tarde, Birger está disposto a contradizer "a história escrita pelos vitoriosos". "Na percepção do público, há apenas vítimas e carrascos. Mas as massas ficam à margem."

Eis alguém que se sente pessoalmente afetado quando o terror e a repressão da Stasi são mencionados. Ele é um acadêmico que sabe "que ninguém pode consentir com os assassinatos no muro de Berlim". Entretanto, no que diz respeito às ordens dos guardas no muro de matar os que tentassem fugir, ele diz: "Se há um grande sinal ali, você não deveria ir lá. Foi totalmente negligente".

Isso levanta uma antiga questão mais uma vez: existia uma vida real em meio à fraude? Subestimar a ditadura é visto como o preço que as pessoas pagam para preservar seu autorrespeito. "As pessoas estão defendendo suas próprias vidas", escreve o cientista político Schroeder, descrevendo a tragédia de um país dividido.

Por Julia Bonstein
Tradução: Eloise De Vylder

Khrushchev mentiu sobre Stálin, afirma historiador

O dia 25 de fevereiro de 1956 é, sem dúvida alguma, um dos mais importantes da história do século 20, porque reflete uma mudança radical na política da União Soviética - que era, então, uma das duas superpotências do mundo. Nesse fatídico dia, o então secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), Nikita Sergeevich Khrushchev, proferiu seu famoso "Discurso Secreto" sobre o suposto culto à personalidade e suas consequências, em uma sessão fechada do 20º Congresso do PCUS. O conteúdo exposto visava minar a imagem de Josef Stálin, principal dirigente internacional comunista por mais de três décadas, secretário-geral do PCUS até sua morte, em 1953, e apresentá-lo como um monstro sanguinário e tirânico. Para tanto, foi relatada uma série de acusações, vilanias que Stálin teria cometido contra a "legalidade socialista".

O discurso de Khrushchev teve um efeito devastador no movimento comunista internacional, desintegrando a unidade que fora conseguida com enorme esforço ao longo de décadas de luta. Muitos militantes se revoltaram contra o legado revolucionário de Stálin, que, há poucos anos, era símbolo de esperança por um novo mundo, e aderiram às posições khrushchevistas. Outros se mantiveram fiéis e passaram a criticar a nova liderança soviética, e houve também aqueles que simplesmente abandonaram suas lutas e perderam a esperança. E, não só isso, o discurso deu munição para a propaganda ocidental anticomunista, tornando-se um dos pilares do paradigma totalitário que até hoje domina a produção acadêmica de História acerca da União Soviética.

Muito já se escreveu sobre este acontecimento e vários pesquisadores chegaram à conclusão de que alguns dos pontos levantados por Khrushchev eram falsos, como, por exemplo, a esdrúxula afirmação de que Stálin conduzia as operações militares da Grande Guerra Patriótica (como os russos chamavam a Segunda Guerra Mundial), utilizando um simples globo terrestre. No entanto, ninguém havia analisado profundamente o "Discurso Secreto" com o intuito de verificar todas as outras afirmações presentes nele, até o historiador americano Grover Furr encarar tal tarefa (veja em www.averdade.org.br entrevista com o professor Grover Furr).

O resultado foi um primoroso trabalho de investigação histórica, lançado em inglês sob o nome "Khrushchev lied", que em português significa "Khrushchev mentiu". O professor Furr chegou à conclusão de que todas as afirmações do líder soviético eram falsas. Apresentou, para tanto, as devidas fontes documentais para cada uma das afirmações, com metade do livro dedicada a transcrições de documentos ou outras fontes utilizadas, além dos vários links para páginas na internet com documentação hospedada.

O julgamento de Zinoviev e Kamenev

Não é possível abordar neste pequeno artigo cada um dos vários tópicos investigados por Furr, porém, apenas para dar uma ideia do impacto desta obra, apresentarei um ponto que julguei interessante, relacionado ao famoso julgamento de Zinoviev e Kamenev, em 1936.

Este julgamento é largamente apresentado como uma farsa planejada por Stálin para eliminar seus opositores políticos, assim como os outros dois juízos que compõem os chamados Processos de Moscou. No entanto, Furr transcreve um trecho de uma carta privada de Stálin para Kaganovich, que claramente demonstra um Stálin muito diferente. Ele não aparece como um forjador, como a mente por trás dos resultados das investigações policiais, mas sim como alguém que tenta compreender o que está ocorrendo através do material investigativo enviado a ele. Seria Stálin tão hipócrita a ponto de enviar uma carta a um camarada do Politburo (a direção do PCUS), fingindo que não sabia o que estava ocorrendo? Ou ele simplesmente não mandara fuzilar seus opositores? E é aí que reside um dos pontos fortes da obra: a riqueza documental à disposição do leitor nos faz pensar e repensar cada frase do autor, cada acontecimento relatado, sempre trazendo à tona dúvidas que nos fazem avançar rapidamente na leitura em busca de respostas.

À parte tal riqueza de fontes na contra-argumentação ao "Discurso Secreto" de Khrushchev, a obra de Furr contém uma seção que apresenta sua interpretação histórica do processo político soviético. Baseado em sua extensa pesquisa e na do historiador russo Iúri Zhukov, Furr argumenta que o 20º Congresso do PCUS foi reflexo da própria dinâmica interna do socialismo soviético, do conflito entre os primeiros-secretários regionais do Partido e o Politburo, encabeçado por Stálin. O próprio Khrushchev foi, durante muito tempo, primeiro-secretário do Partido em Kiev (capital da Ucrânia, uma das principais repúblicas soviéticas) e também de Moscou, capital da URSS.

Este conflito tem raízes na própria estrutura de poder da União Soviética, que dava brechas para a acumulação de poder e de privilégios por parte dos primeiros-secretários. Stálin percebeu este problema e, além de criticar duramente os burocratas carreiristas, tentou minar o poder deles. Sua principal arma foi a Constituição de 1936 e o novo Código Eleitoral, criado pelo próprio Stálin em conjunto com Iakovlev. De acordo com Furr e Zhukov, este novo código eleitoral - que previa eleições secretas, diretas e competitivas - batia de frente com as pretensões dos primeiros-secretários do Partido que, até então, mantinham-se em seus cargos por indicação.

Este quadro pintado pelo historiador Grover Furr nos permite compreender melhor o conteúdo do "Discurso Secreto" de Khrushchev, que se converte de uma denúncia dos crimes de um tirano sanguinário em um poderoso golpe político.

O 20º Congresso do PCUS surge então não como uma autocrítica da liderança soviética, mas como o símbolo da consolidação do poder de uma elite privilegiada do Partido, que nada queria com o socialismo. E para conseguir desarticular os que ainda afirmavam a linha revolucionária do Partido, nada mais sábio do que destruir a imagem de seu mais respeitado líder, Josef Stálin.

(Paulo Gabriel é estudante de História da UnB)

Fonte: A Verdade

Entenda o que foi o Muro de Berlim

PRECEDENTES

- 22 de Junho de 1941 – Invasão da URSS pelos alemães (Operação Barbarossa);

- 7 de Dezembro de 1941 – Ataque a Pearl Harbor;

- 17 de Julho de 1942 a 2 de Fevereiro de 1943 – Batalha de Stalingrado, evento que foi essencial para a derrota nazista;

- 3 de Setembro de 1943 – Tratado de paz assinado pelos italianos, rendendo-se aos Aliados;

- 28 de Novembro a 1 Dezembro de 1943 – Conferência de Teerã;

- 6 de Junho de 1944 – Dia D;

- 4 a 11 de Fevereiro de 1945 – Conferência de Yalta;

- 22 de Abril de 1945 – Berlim tomada pelos soviéticos;

- 30 de Abril de 1945 – Suicídio de Adolf Hitler;

- 7 de Maio de 1945 – Nazistas se rendem;

- 17 de Julho a 2 de Agosto de 1945 – Conferência de Potsdam;

- 2 de Setembro de 1945 – Bombas atômicas dos EUA contra o Japão, que o fizeram se render.


CONFERÊNCIA DE POTSDAM

Participantes: URSS — Josef Stalin, Inglaterra — Winston Churchill e posteriormente Clement Attlee, EUA — Harry Truman.

Local: Potsdam, capital do estado de Brandenburg, Alemanha.

Objetivo: Formação de um Conselho de Organização e Controlo, composto pelos ministros dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, União Soviética, França, China e Estados Unidos, que teria como função estudar e propor os textos dos tratados de paz com a Itália, a Roménia, a Bulgária, a Hungria e a Finlândia, além da própria Alemanha. Pretendia ainda dar ao povo germânico a oportunidade de retomar a sua vida em bases democráticas e pacíficas, e banir toda a legislação nazi discriminatória quanto a raça, crença religiosa e opinião política.

A posição da URSS se manteve a mesma até a morte de Josef Stalin: defender uma Alemanha unificada, desmilitarizada e pacífica. Porém, com o fim da Segunda Guerra Mundial, é iniciada a Guerra Fria. O Plano Marshall, um aprofundamento da Doutrina Truman, foi criado pelos EUA para prender os países da Europa Ocidental a seu domínio. Afundando-se em dívidas, o Ocidente capitalista desejava desmembrar a Alemanha, quebrando os acordos firmados em Potsdam. Em 23 de Maio de 1949 a República Federal da Alemanha é criada. DETALHE: a República Democrática da Alemanha (“Alemanha Oriental”) foi proclamada em 7 de Outubro do mesmo ano!!!

Em Berlim, que agora ficava dentro da RDA, continuou sendo permitida a presença de cidadãos da RFA, pois a intenção da RDA e da URSS até então era uma Alemanha pacífica, democrática e unificada. Com a queda de Berlim ao fim da II Guerra, os povos soviéticos e o povo alemão sonhavam com uma pátria unificada e socialista.


O MURO DE BERLIM

O Muro de Berlim foi erguido em agosto de 1961 (portanto após a morte de Stalin, ocorrida em 1953) e em nada se diferiu dos muros da burguesia, como na Palestina, na fronteira do USA com o México, ou nas favelas do Rio de Janeiro.

Com a morte de Stalin, o que passa a ocorrer é que os dirigentes da ainda chamada União Soviética, liderados por Nikita Kruchev propagavam palavras sobre socialismo, mas praticavam atos imperialistas e a restauração do capitalismo na URSS*, como bem caracterizou o presidente Mao Tsé-tung em seu combate ao revisionismo moderno.

O muro durou até enquanto suspirava o social-imperialismo russo. A bancarrota deste sistema de dominação permitiu a muitos revolucionários, ainda iludidos com estas forças, ter uma visão mais clara da realidade e buscar um novo caminho. Países membros do bloco socialista, partidos revolucionários e militantes comunistas devotados que foram durante anos oprimidos ou difamados pelo revisionismo tiveram seu ânimo revigorado e ganharam forças ao redor do mundo.

Foi justamente esse revisionismo, encabeçado por Kruchev e incapaz de atender os anseios das massas, que em 1961 construiu o muro, entrando em profunda contradição com o povo alemão. E a queda do muro só atestou a total falência deste revisionismo.

As empresas sob o social-imperialismo não são tão eficientes, do ponto de vista do capitalismo, como as imperialistas e nem são mais propriedade de todo o povo (o que seria mais próprio em países ditos socialistas – por exemplo, a maior parte propriedade dos meios de produção durante o governo de Stalin era coletivista), como quando sob a direção revolucionária. O resultado não podia ser outro: A inoperância e a burocratização. Apenas a partir daí, com a traição ao socialismo revolucionário marxista-leninista, Muitos cidadãos da RDA passaram a fugir para a RFA, principalmente porque propositalmente a RFA exibia na fronteira com a RDA todo luxo e futilidade da burguesia; tudo isso não passou de um plano para criar na mente dos cidadãos da Alemanha Oriental a ideia de que “os povos capitalistas vivem melhor”. Falharam: hoje é muito comum ouvir da boca dos que viveram na RDA que preferem o comunismo e que o capitalismo causou o declínio da Alemanha. História similar à da Rússia, que tinha tudo para ser a nação mais próspera e socialmente justa do mundo (i.e. sem precisar explorar o trabalhador para tal feito), mas hoje podemos ver o que o capitalismo trouxe a esses países: a maléfica desigualdade social, pobreza, moradores de rua, crianças dormindo em metrôs. Pois é, leitores, a maioria dos ex-soviéticos também preferem uma Rússia comunista. Enquanto isso, a burguesia parasita distorce a história do comunismo, entre suas muitas mentiras a de que a queda do Muro de Berlim significou a “derrota do socialismo”. Se o socialismo perdeu uma batalha, foi para seus inimigos internos: o oportunismo e o revisionismo. E essas derrotas, servindo como amargas lições, são temporárias. Se bem que seja verdade que um império caiu, ele nada tem a ver com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o primeiro Estado Proletário da história, comandado por Lenin e depois por Stalin.

A queda do muro de Berlim não passou de uma vitória comercial. Ela significa a ruína do velho Estado do Bem-estar Social na Europa e do traidor revisionismo.

A derrocada do social imperialismo russo em nada atrasou a luta pelo socialismo no mundo, ao contrário, liberou energias revolucionárias antes subjugadas a ele. Portanto é justo comemorar a queda do muro, mas pelos motivos certos.


Alguns trechos foram escritos por Luiz Carcerelli, do jornal A Nova Democracia
*Para mais informações sobre a restauração do capitalismo na URSS, leia: The Restoration of Capitalism in the Soviet Union, por William Bill Bland