Venezuela: resultado eleitoral encorajador

A eleição parlamentar de ontem (dia 26) na Venezuela confirmou que o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e seus aliados, os comunistas, que apoiam o presidente Hugo Chávez, são a principal força política do país. Embora não tenham conseguido a maioria qualificada de 110 entre os 165 lugares da Assembléia Nacional, lograram contudo uma folgada maioria de deputados para apoiar as profundas mudanças que Chávez vem promovendo na Venezuela. Os partidários de Chávez perdem, contudo, a maioria automática de dois terços dos votos, necessária para realizar mudanças constitucionais - os cálculos divulgados hoje (dia 27) asseguram que terão de 58% a 60% de cadeiras, isto é, entre 95 a 99 deputados.

Mesmo assim, é um resultado encorajador. Seu alcance vai além dos votos alcançados nas urnas, como destacou o vice-presidente da Venezuela, Elias Jaua, em uma entrevista concedida depois da divulgação dos primeiros dados oficiais. Em primeiro lugar, disse que o resultado garante a estabilidade política e institucional do país e do próprio presidente Hugo Chávez. "A revolução conta com uma maioria folgada na Assembléia Nacional, e isso permitirá ao comandante Chávez seguir governando, restituindo o poder ao povo e construindo o caminho para o socialismo".

Jaua chamou a atenção para o fato de que, com o número de deputados que elegeu, a oposição não terá chance de reverter as mudanças já ocorridas no país, que favorecem o povo, nem ativar mecanismos desestabilizadores como revogar poderes públicos ou processar o Presidente da República. Além disso, argumentou, a participação oposicionista na eleição indica que ela aceita as condições democráticas impostas pelo povo, e com isso aumenta a legitimidade do processo revolucionário que ocorre no país.

Nesta eleição, a oposição retorna ao parlamento venezuelano. Na última eleição, em 2005, os antagonistas de Chávez alegaram fraude (que, evidentemente, não ocorreu) e boicotaram a disputa retirando-se dela no dia anterior ao da votação. Resultado: O boicote reacionário e antidemocrático voltou-se contra eles, que ficaram fora do parlamento na legislatura que se encerra, que foi amplamente hegemonizada pelos partidários do processo bolivariano. Na eleição de ontem, a oposição voltou, atitude que muitos intérpretes do oficialismo venezuelano comemoram como um fortalecimento do processo democrático.

Embora tenham alcançado uma bancada suficiente para impedir o avanço mais rápido do processo revolucionário, eles elegeram um número menor do que haviam alcançado na última eleição da qual participaram, a de 2000. Hoje, estima-se que tenham eleito 60 parlamentares, 20 a menos do que haviam eleito há dez anos atrás. É um recuo significativo, de um em cada quatro mandatários que já tiveram.

A normalidade democrática foi demonstrada também pelo comparecimento dos eleitores. Apesar da chuva, mais de 66% dos 17,6 milhões que estavam em condições de votar compareceram, apesar do voto não ser obrigatório na Venezuela. É um percentual alto para as eleições venezuelanas, e demonstra o alto grau de engajamento político da população, que escolheu garantir nas urnas as conquistas alcançadas desde a ascensão de Chávez à Presidência, em 1998.

O jornal Tribuna Popular, do Partido Comunista da Venezuela, comemorou o resultado. "O povo venezuelano conseguiu uma vitória popular no caminho para consolidar o Poder Popular", registrou. É de fato uma vitória importante, que indica a disposição de avançar no rumo que se descortina para o país desde 1998. Mas mostra também que esse é um caminho árduo, de luta intensa. E que antecipa, de certa forma, a próxima etapa na construção de uma Venezuela democrática e avançada, a eleição presidencial de 2012.



Serra e sua classe média

No horário eleitoral e nas entrevistas do candidato Serra percebe-se algo muito interessante sobre a psicologia de massas do seu eleitorado. Isso pelo menos me saltou às vistas por se relacionar com o conteúdo do livro que estou lendo no momento: "Psicologia de massas do fascismo", de Wilhelm Reich.

O candidato da direita tem enfatizado, após apresentar propostas absurdas ou ao ser questionado por repórteres sobre como pretende implementar essas mesmas propostas, que ele já foi "economista", que "sabe fazer conta", que já foi isso, já foi aquilo outro e que, portanto, "sabe como fazer".


São propostas meramente eleitoreiras, como aumentar o salário mínimo para R$600,00, por exemplo, sem dizer de onde tiraria o dinheiro necessário.

Mas não foi uma, duas ou três vezes que ele falou isso. Ele tem repetido isso constantemente, tem apontado a si mesmo como "capaz" de resolver o que ele não explica a ninguém como faria.

Isso me chamou a atenção para o tipo de relação que Serra mantém com seu eleitorado: uma relação de confiança.

Se perguntarmos aos seus eleitores algo sobre essas propostas, eles só podem responder que "Serra sabe o que faz", pois nem o próprio Serra explica quando perguntado. Ou seja, eles tem que "confiar" no Serra.

É unicamente devido à estrutura de caráter da classe média que este discurso encontra eco na base do seu eleitorado. É o mesmo que acontecia com a classe média que formava a base de massas do movimento nazista de Hitler, que pregava mil contradições em seu programa de governo mas que ainda assim tinha a "confiança" da sua base.

Esta estrutura se caracteriza por uma dependência de uma figura de autoridade projetada a partir da imagem do pai, que para a criança tem solução para tudo. Ela é produto principalmente da estrutura familiar da classe média.

Esta análise da classe média feita pelo psicanalista marxista Wilhelm Reich se mantém extremamente atual pelo que podemos verificar tanto no comportamento da classe média brasileira (clique aqui para ver um ótimo site sobre isso), como nesta característica da relação do eleitorado serrista com o seu candidato.

Ora, é óbvio que essa ligação entre essa massa e o seu líder é emocional, inconsciente, e a psicologia de massas desnuda de forma extraordinária o mecanismo deste processo.

Todo voto, em qualquer candidato, é sempre expressão de confiança, claro. Mas há uma nítida diferença entre um voto razoável, pensado, analisado, e um voto em propostas que não encontram o menor fundamento na realidade. Um voto que se baseia tão somente na promessa do candidato de que ele "vai dar um jeito" pois sabe fazer contas. Como se a matemática não fosse exata. Ou como se o povo fosse muito burro para não compreender os cálculos que ele disse que fez antes de formular suas propostas.

Mas a classe média, iludida, pequeno-burguesa aspirante à "classe de cima", confia cega e emocionalmente no seu candidato, já que o "horror" do proletariado vai votar "naquela que não se nomeia". A classe média é sempre a classe média. A classe das maiores contradições do capitalismo.


Sérgio Miranda - 1212

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É possível derrotar a pobreza sob o capitalismo?

As pessoas mais realistas acompanharam o estabelecimento pela Organização das Nações Unidas, em 2000, das chamadas Metas do Milênio, para combater a pobreza e a fome no mundo até 2015, com uma pergunta: este é um objetivo viável sob o domínio do sistema capitalista?

A cúpula sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio iniciada ontem (20) na sede da ONU, em Nova York, com a presença de representantes de 140 países, é parte da resposta àquela pergunta. Faltam cinco anos para o cumprimento daquele prazo; neste período o mundo assistiu ao auge da hegemonia neoliberal e também ao início de sua derrocada com a grave crise econômica que, com epicentro nos EUA, varreu o mundo e arrasou algumas economias, principalmente as mais ricas e desenvolvidas.

É nesse contexto que o secretário geral da ONU, Ban Ki Moon apresentou um balanço sóbrio, para dizer o mínimo, do cumprimento daquelas metas. Ressaltando que parte do compromisso está sendo cumprido (a luta contra a pobreza) ele lamentou a dificuldade para alcançar os demais (acesso à educação, igualdade de gêneros, a melhoria dos serviços básicos de saúde, luta contra doenças como a Aids e a malária, elevação da qualidade de vida e o respeito ao meio ambiente). Investindo contra a falta de empenho dos países ricos, afirmou que será necessário um financiamento que ultrapassa 100 bilhões de dólares para que as metas sejam cumpridas no prazo.

Mas não vai dar - é o que se depreende da posição de governantes como a alemã Angela Merkel, que foi clara em seu discurso: as metas não serão atingidas, disse ela. O problema, afirmou, não é o dinheiro, mas o que fazer com ele. Enquanto o primeiro ministro da Noruega, Jens Stoltenberg, repetia as palavras de sua colega alemã, o representante do governo dos EUA dizia que o presidente Obama não deve fazer doações para completar o volume de recursos necessários.

No outro extremo, Evo Morales, presidente de um dos países mais pobres do planeta, a Bolívia, foi ao ponto: o fim da pobreza só é possível com a mudança do sistema político e econômico. “Se não mudam as condições nunca poderemos superar a pobreza”, disse, criticando a voracidade dos países ricos em se apropriar dos recursos naturais dos países em desenvolvimento e exigindo o cumprimento do compromisso daqueles países destinarem 0,7% do PIB para implementar aquelas metas. “Não se trata de dar um presente, mas isto é parte da dívida que têm” com os demais países, disse.

O estabelecimento de metas tão ambiciosas quanto aquelas adotadas há uma década ajuda a entender a dinâmica do sistema hegemônico no mundo, o capitalismo, suas limitações e também as ilusões daqueles que as formulam.

O capitalismo é hegemônico há uns três séculos; há cem anos, o imperialismo emergiu e passou a conduzir a expansão planetária desse sistema; há dez anos, o neoliberalismo, carranca mais selvagem e agressiva do domínio do dinheiro, parecia imbatível. Esse desenvolvimento deixou um rastro de pilhagem dos povos, miséria crescente e desorganização da vida em quase todo o planeta. O domínio capitalista aprofundou as desigualdades e a miséria no mundo, sendo a causa e o fator do aumento da pobreza; hoje, em cada grupo de seis seres humanos, um passa fome (925 milhões, segundo a ONU) justamente porque a expansão da produção voltada para o mercado e para a remuneração do capital destruiu suas formas tradicionais de vida. Este é o papel histórico do capitalismo - superar formas rotineiras de produzir e aumentar a produtividade. Mas o passo seguinte só será possível com sua superação e o início de uma nova forma, superior, de organização da vida, da produção e da distribuição da riqueza.

Entretanto, esse patamar civilizatório mais avançado da humanidade não será alcançado nos salões badalados de cidades como Nova York, mas no duro combate dos povos e dos trabalhadores por seus direitos, em busca de uma nova ordem econômica e política que derrote o sistema imperialista e assegure as condições para uma vida digna para todos.

Capitalismo verde é sujeira: Marina e Gabeira

Agora todo mundo capitalista deu para ser verde.

A General Eletric prega a "ecoimaginação", ou este oxímoro insano: "carvão limpo". Na propaganda ela põe um elefantão cantando "Singing in the rain".

O barão da mídia, Murdoch, que está louquinho para derrubar Chávez, declarou: "sinto orgulho de ser verde".

É impossível existir capitalismo sem toxina.

A mistificação do capitalismo verde é reproduzida por aqui com Gabeira e Marina. Como é que alguém a favor do lucro capitalista evangélico pode falar em natureza? A única coisa verdecoevangélica que existe é a nota verde do dólar.

Marina é pró-capitalismo, portanto é antiecológica. Seus assessores almofadinhas e janotas são udenistas e tucanos de corpo e finanças, portanto contra a minhoca, o arado natural, Eles são entusiastas da Monsanto que inventou o herbicida round up devastador da natureza e que financia a biotecnologia e a engenharia genética.

Marina, me dizia Marcelo Guimarães, não moveu uma palha pelo projeto das micro-destilarias a álcool em pequenas propriedades; agora ela se diz devota do álcool e óleos vegetais, só que produzidos em economia de escala com plantation latifundiária para exportação multinacional.

Marina é adversária da reforma agrária radical, portanto joga no time do ecocídio, Serra batalhou pela aprovação da lei das patentes para felicidade das grandes corporações multinacionais na Câmara e Senado.

A agricultura capitalista multinacional arruína a terra e envenena as pessoas. Tudo isso sob o comando dos grãos geneticamente manipulados pela Monsanto, que é a Rede Globo da agricultura.

A juventude não poderá cair na esparrela agrobiocancerigenotucano. O descalabro da natureza é causado pelo regime social chamado capitalismo, por conseguinte crítica ecológica que não seja anticapitalista é conversa de urubu com bode.

E Gabeira? É a ideologia pós-moderna do Banco Mundial em ação, que no Rio de Janeiro é a expressão da burguesia comercial e imobiliária, de onde provêm Carlos Lacerda e César Maia.

Nunca entendi a notoriedade de Gabeira. Chegou da Suécia de tanguinha de crochê na praia pousando de "candidato jovem" pré-Collor para destruir os CIEPs de Darcy Ribeiro.

Glauber Rocha tinha a maior bronca dele porque queria tacar fogo no filme Terra em Transe. Glauber dizia que a ambição de Gabeira era freqüentar a casa de Caetano Veloso, que convenhamos não é o barraco de Goethe.

Glauber escreveu: "traíram Jango em 1964 e 1974, destruíram o projeto de nação que ficou no esqueleto do Gabeira".

Sobre as flores do estilo, pergunto quem foi o gênio linguista que bolou o mote gerundiano da campanha de Dilma? Refiro-me à palavra de ordem: "Para o Brasil seguir mudando". Que coisa feia. É isso que dá colocar campanha política em agência de publicidade.

Gilberto Felisberto Vasconcellos é sociólogo, jornalista e escritor.

Fonte: Caros Amigos

Fidel Castro e o "modelo cubano"


Nos últimos dias a mídia a serviço do império, especializada em manipular e descontextualizar a verdade, tem feito de forma mal-intencionada um grande estardalhaço sobre uma suposta declaração de Fidel ao jornalista Jeffrey Goldberg de que "o modelo cubano não funciona nem mesmo para nós". Essa declaração seria uma resposta à pergunta de Goldberg sobre se Fidel tinha a intenção de "exportar o modelo cubano" a outros países. Uma pergunta que já demonstra uma completa incompreensão das mais básicas premissas do marxismo-leninismo, já que uma revolução não é algo que se "exporta".

Mas em primeiro lugar devemos ter cuidado antes de tomar tanto a declaração como sua interpretação como o que realmente foi dito por Fidel: o relato de Goldberg não é um transcrição da conversa, de forma que possamos contextualizá-la para saber de fato o que Fidel quis dizer.

Em segundo lugar, Fidel sempre foi muito crítico sobre tudo em Cuba. Ele nunca prometeu um paraíso aos cubanos, pois os comunistas não prometem nenhum paraíso a ninguém - quem faz isso são os padres, não os comunistas.

Seria de se espantar se Fidel tivesse dito, ao contrário, que ele queria sim exportar o "modelo cubano" a outros países, ao invés de dizer que o "modelo cubano" não funciona nem mesmo para eles.

Cuba tem vários problemas, mas não porque é socialista, mas porque é um país pobre, como todos os países da América Latina. Além disso, está debaixo de um bloqueio econômico dos EUA que torna tudo mais difícil para eles.

Uma das mais básicas premissas do marxismo-leninismo é que a revolução de um país não pode ser "exportada" para outro. Cada país tem suas particularidades, seu nível de desenvolvimento, etc. Revoluções nunca são iguais.

Outra básica premissa é que a realidade é dialética, está em constante mudança. Cuba não é a mesma de 50 anos atrás. Fidel Castro estaria apenas sendo um marxista ortodoxo se admitisse que o modelo cubano de 50 anos atrás deveria sofrer alterações hoje.

Isso não significaria o fim do socialismo, mas apenas as mudanças que uma realidade dialética exige.

Sobre aqueles que criticam o "modelo cubano", o blogueiro Yohandry, cidadão cubano, faz algumas perguntas sobre o "modelo" capitalista:

1) Por que aqueles que alimentam as campanhas de descrédito contra a revolução cubana guardam silêncio sobre o modelo econômico capitalista que está prestes a extinguir a humanidade?

2) Por que não se tem consciência sobre o irracional "modelo" que consome bilhões de dólares em publicidade quando mais de 900 milhões de seres humanos não sabem ler nem escrever?

3) Por que não falar de um mundo que abriga em suas entranhas milhares de ogivas nucleares capazes de extinguir em um segundo a vida no planeta?

4) Por que não dão a devida cobertura midiática ao alerta de Fidel sobre os perigos que se aproximam sobre uma civilização que não terá tempo para refletir, sobre nenhum tipo de modelo, em caso de um desastre de guerra?

E podemos acrescentar:

5) Por que no "modelo" capitalista há mais de 1 bilhão de pessoas passando fome no mundo hoje?

6) Por que o "modelo" capitalista nos trouxe 2 guerras mundiais, além de várias outras que ceifaram a vida de milhões de pessoas?

7) Por que no "modelo" capitalista 2 bilhões de pessoas não tem acesso a medicamentos?

8) Por que no "modelo" capitalista 2,5 bilhões não tem acesso a saneamento básico e esgoto?

9) Por que no "modelo" capitalista há 924 milhões de pessoas sem teto ou que vivem em moradias precárias?

10) Por que no "modelo" capitalista 218 milhões de crianças trabalham em condições de escravidão ou em tarefas perigosas ou humilhantes como soldados, prostitutas, serventes na agricultura, na construção civil ou na indústria têxtil?

E além disso, já que o "modelo cubano" está novamente em discussão, vale lembrar as justas palavras de Rafael Correa, presidente do Equador, sobre o assunto em 2009:

"Avaliar o modelo cubano fazendo abstração de mais de 40 anos de bloqueio econômico e comercial dos EUA é tão hipócrita, tão cínico como querer investigar a morte de uma pessoa afogada encontrada no fundo de uma piscina com os pés metidos em um balde de cimento e chegar à brilhante conclusão de que se afogou porque não sabia nadar.

"Cuba tem resistido por 50 anos ao bloqueio dos EUA. Asseguro que nenhum país da América Latina resistiria por 5 meses.

"E com a capacidade, os recursos humanos que tem e sua coesão social, asseguro que quando se levantar este absurdo bloqueio uma enorme prosperidade irá disparar em Cuba. Eles tem imensos problemas, não há dúvidas, pois todos os vemos, mas também conseguiram muitos sucessos."


Política x Administração

Assim como o rei Midas transformava em ouro tudo o que tocava, o capitalismo transforma em mercadoria tudo aquilo em que põe as patas. E quando não transforma exatamente em mercadoria, transforma em algo relacionado à produção de mercadorias.

Na política isso não poderia ser diferente, claro. E isso se nota inequivocadamente agora quando ouvimos nos debates eleitorais sobre quem é o candidato "mais preparado".

Isso é um tremendo engodo, uma tremenda enganação. Os capitalistas pretendem reduzir política a administração, o que é um erro. A política engloba a administração, mas não se reduz a isso.

Da mesma maneira que o sucesso das ciências naturais no século XIII influenciava as ciências humanas a seguirem os seus métodos, o capitalismo tem induzido a se pensar na administração de um país como na administração de uma grande empresa, e aí o melhor administrador seria o melhor presidente.

Não irá demorar muito para que apareça alguém com a proposta de que o cargo de presidente seja preenchido por concurso público.

A orientação política de um país é algo que não se enquadra dentro da mera administração. Um presidente, além do mais, não governa sozinho. Ele tem toda uma equipe consigo para tratar dos setores estratégicos do país. É importante que esses ministros sejam técnicos competentes, bons administradores, assim como seus deputados e senadores. Mas que também sua orientação política seja a mesma do presidente.

Tirar o foco do debate da orientação política para o preparo administrativo é fugir do principal. É talvez medo de que a orientação política de alguns candidatos não encontrem eco na sociedade.

Thatcher bloqueou ajuda soviética a grevistas britânicos

Arquivos recentemente abertos na Inglaterra revelam o que realmente aconteceu com a ajuda de trabalhadores mineiros soviéticos aos grevistas mineiros ingleses, na greve de 1984-1985. O dinheiro nunca chegou ao seu destino.

Margaret Thatcher, a dama-de-ferro inglesa, foi a articuladora do bloqueio para que a ajuda dos soviéticos não chegasse aos trabalhadores britânicos.

Depois de 6 meses de greve, o governo inglês interviu na União Nacional dos Mineiros e bloqueou suas contas, cortando assim todas as reservas de que dispunham os trabalhadores. A greve só poderia continuar com ajuda externa.

Os trabalhadores soviéticos, solidários e internacionalistas, tiraram dinheiro de seus próprios bolsos para enviar para os mineiros ingleses (mais de 1 milhão de dólares).

O governo inglês começou a dizer que "via com certa preocupação a transferência de dinheiro de sindicatos soviéticos para a União Nacional dos Mineiros".

O embaixador soviético, porém, dizia que os sindicatos soviéticos eram "independentes e democráticos", e que o governo não poderia intervir, além de não ser responsável pelo "exercício dos seus direitos".

O governo soviético de fato estava sabendo da doação, que foi autorizada através de um documento assinado pelo próprio Gorbachev. E além disso, para fazer a conversão de rublos para moeda estrangeira, também era necessário a autorização do governo.

Mas no final das contas a ofensiva diplomática de Thatcher parece ter funcionado: apesar do governo soviético ter informado que "qualquer forma de ajuda que possa ser dada aos mineiros britânicos seria realizada de forma independente pelos mineiros soviéticos sem a mínima participação do governo soviético", o fato é que essa ajuda nunca chegou aos trabalhadores grevistas.

Segundo o jornal "The Guardian", esse bloqueio teve a conivência de Gorbachev, que preferiu sacrificar os trabalhadores britânicos para manter uma boa relação com a Inglaterra.

Notícia publicada pelo jornal inglês The Guardian.