Todos podem ficar ricos

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Original de Sidewalk Bubblegum © - Tradução de Glauber Ataide

Luta de classes? Pra que?

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Entrevista de Stálin a Roy Howard

Esta entrevista se encontra completa no vol. XIV, pág. 133-147 das Obras Completas de Stálin, em inglês. No Brasil as obras de Stálin foram lançadas apenas até o volume VI.


No dia 1º de março de 1936, o Camarada Stálin deu uma entrevista a Roy Howard, presidente da Scripps-Howard Newspapers.


[...]

Howard: Que situação ou condição, na sua opinião, fornece a principal ameaça de guerra hoje?

Stálin: O capitalismo.

Howard: Qual aspecto específico do capitalismo?

Stálin: Seu aspecto imperialista, usurpatório. Lembre-se de como a Primeira Guerra começou. Ela surgiu do desejo de redividir o mundo. Hoje nós temos o mesmo cenário. Há estados capitalistas que consideram que foram trapaceados na última redistribuição de esferas de influência, territórios, fontes de matérias-primas, mercados, etc, e que gostariam de uma outra redivisão que lhes favorecesse. O capitalismo, na sua fase imperialista, é um sistema que considera a guerra um instrumento legítimo para decidir controvérsias internacionais, um método legal de fato, se não uma lei.

Howard: Não poderia haver um elemento de perigo no medo existente por parte dos países que você chama de capitalistas em relação a uma tentativa da União Soviética de forçar suas teorias políticas sobre outras nações?

Stálin: Não há justificação alguma para tais receios. Se você pensa que o povo soviético quer mudar os estados vizinhos, e ainda mais por meio da força, você está completamente enganado. Claro, o povo soviético gostaria de ver os estados vizinhos transformados, mas isso é uma questão dos estados vizinhos. Eu não consigo ver que perigo esses estados podem perceber nas idéias do povo soviético se eles estão realmente andando na linha.

Howard: Isso significa, então, que a URSS abandonou seus planos de uma revolução mundial?

Stálin: Nós nunca tivemos tais planos.

Howard: Mas você sabe, Sr. Stálin, que grande parte do mundo tem uma impressão diferente sobre isso.

Stálin: Isso é consequência de uma má interpretação.

Howard: Uma trágica má interpretação?

Stálin: Não, uma cômica má interpretação. Uma tragicômica, talvez.

Veja que nós, marxistas, acreditamos que a revolução acontecerá em outros países. Mas ela só acontecerá quando os revolucionários destes países acharem que isso é possível, ou necessário. Exportar a revolução não faz sentido. Cada país fará sua própria revolução se quiser, e se não quiser, não fará revolução nenhuma. Nosso país, por exemplo, quis fazer uma revolução e a fez, e agora estamos contruindo uma nova sociedade, sem classes. Mas afirmar que nós queremos fazer uma revolução em outros países, interferir em suas vidas, é dizer uma inverdade, é afirmar o que nunca defendemos.

[...]


Howard: Reconhecidamente o comunismo ainda não foi alcançado na Rússia. Um socialismo de estado é o que foi construído. Mas não afirmam o fascismo na Itália e o Nacional-Socialismo na Alemanha terem obtido resultados semelhantes? Não chegaram a isso às custas da liberdade individual sacrificada pelo bem do estado?

Stálin: O termo "socialismo de estado" é inexato. Muitas pessoas tomam este termo como significando o sistema sob o qual uma certa parte da riqueza, algumas vezes uma parte considerável dela, passa para as mãos do estado, ou fica sob o seu controle, enquanto que na maioria absoluta dos casos a maquinaria, as fábricas e as terras permanecem como propriedade privada das pessoas. Isso é o que algumas pessoas entendem por "socialismo de estado". Algumas vezes este termo significa um sistema sob o qual o estado capitalista, visando preparar ou financiar uma guerra, administra um certo número de empreendimentos privados às suas próprias custas. A sociedade que nós construímos não pode de forma alguma ser chamada de "socialismo de estado". Nossa sociedade soviética é uma sociedade socialista, pois a propriedade privada das fábricas, da maquinaria, da terra, dos bancos e do sistema de transporte foi abolida e a propriedade pública foi colocada em seu lugar. A organização social que nós criamos pode ser chamada uma organização socialista soviética, não totalmente completa, mas fundamentalmente, uma organização socialista da sociedade. O fundamento dessa sociedade é a propriedade pública: estatal, isso é, nacional, e também propriedade rural cooperativa, coletiva. Nem o fascismo italiano nem o Nacional-"Socialismo" alemão tem alguma coisa em comum com tal sociedade. Principalmente porque a propriedade privada das fábricas e da maquinaria, da terra, dos bancos, do transporte, etc permaneceu intacto e, portanto, o capitalismo permanece com força total na Alemanha e na Itália.

Sim, você está certo, nós ainda não construímos uma sociedade comunista. Não é fácil construir tal sociedade. Você provavelmente está ciente da diferença entre uma sociedade socialista e uma comunista. Numa sociedade socialista algumas desigualdades na propriedade ainda existem. Mas numa sociedade socialista não há mais desemprego, não há mais exploração, nem opressão das nacionalidades. Numa sociedade socialista todos são obrigados a trabalhar, apesar de não receber, como pagamento por seu trabalho, de acordo com as suas necessidades, mas sim de acordo com a quantidade e a qualidade do seu trabalho. Isso é a razão de os salários e, além disso, os salários desiguais, ainda existirem. Apenas quando conseguirmos criar um sistema sob o qual, em retorno por seu trabalho, as pessoas receberem da sociedade não de acordo com a quantidade e a qualidade do seu trabalho, mas de acordo com as suas necessidades, será possível dizer que construímos uma sociedade comunista.

Você diz que para construir nossa sociedade socialista nós sacrificamos a liberdade individual e passamos por privações. A sua pergunta sugere que a sociedade socialista nega a liberdade individual. Isso não é verdade. Claro, para construir algo novo uma pessoa precisa economizar, acumular recursos, reduzir o consumo por algum tempo e pegar emprestado de outras pessoas. Se uma pessoa quer construir uma casa ela economiza dinheiro, corta algumas despesas por um tempo, pois de outra forma a casa nunca seria construída. E quanto mais isso não se aplica quando se trata de construir uma nova sociedade humana? Nós tivemos que reduzir as despesas por um tempo, coletar os recursos necessários e empregar um grande esforço. Isso é exatamente o que nós fizemos e assim construímos uma sociedade socialista.

Mas nós não construímos essa sociedade para restringir a liberdade pessoal mas sim para que o indivíduo possa se sentir realmente livre. Nós o construímos por causa da verdadeira liberdade individual, liberdade sem aspas. É difícil pra mim imaginar que "liberdade pessoal" é desfrutada por uma pessoa desempregada, que quase passa fome e não pode encontrar emprego. A verdadeira liberdade só pode existir onde a exploração foi realmente abolida, onde não há opressão de uns pelos outros, onde um homem não é assombrado pelo medo de amanhã estar sem trabalho, sem casa e sem pão. Apenas em tal sociedade a liberdade pessoal e qualquer outro tipo de liberdade possível são reais, não apenas de papel.

[...]

Howard: Uma nova constituição está sendo elaborada na URSS, estabelecendo um novo sistema eleitoral. Como poderia este novo sistema alterar a atual situação na URSS na qual apenas um partido participa das eleições?

Stálin: Nós devemos provavelmente adotar nossa nova constituição no final deste ano. A comissão responsável por elaborar a constituição está trabalhando e deve terminar seu trabalho em breve. Como já foi anunciado, de acordo com a nova constituição, o sufrágio será universal, igual, direto e secreto. Você deve estar confuso pelo fato de apenas um partido participar das eleições. Você não pode ver como as disputas eleitorais podem ocorrer nessas condições. Evidentemente os candidatos serão lançados não apenas pelo Partido Comunista, mas por toda sorte de organizações públicas, não partidárias. E nós temos centenas delas. Nós não temos mais partidos de oposição da mesma forma que não temos mais uma classe capitalista se opondo à classe trabalhadora, a qual é explorada pelos capitalistas. Nossa sociedade consiste exclusivamente de trabalhadores livres da cidade e do campo - operários, camponeses, intelectuais. Cada um destes grupos pode ter interesses especiais e expressá-los por meio de numerosas organizações públicas que existem. Mas como não há classes, como as linhas divisórias entre as classes foram eliminadas, desde que apenas um pequena, mas não fundamental, diferença entre os vários estratos numa sociedade socialista permaneceram, não há espaço para a criação de partidos de oposição. Onde não há várias classes não pode haver vários partidos, pois um partido é parte de uma classe.

Sob o Nacional-"Socialismo" há também apenas um partido. Mas de nada adianta este sistema unipartidário fascista. A questão é que na Alemanha, o capitalismo e as classes ainda existem e irão emergir para a superfície a despeito de qualquer coisa, mesmo na luta entre os partidos os quais representam as classes antagônicas, como aconteceu na Espanha, por exemplo. Na Itália há também apenas um partido, o Partido Fascista. Mas de nada vai adiantar pelas mesmas razões.

Por que será o nosso sufrágio universal? Porque todos os cidadãos, exceto aquelas privados de direitos políticos pelos tribunais, terão o direito de eleger e serem eleitos.

Por que será o nosso sufrágio igual? Porque nem as diferenças de propriedade (que ainda existem em certa medida), nem raciais ou afiliações nacionais acarretará algum privilégio ou inaptidão. As mulheres terão os mesmos direitos de eleger e serem eleitas que os homens. Nosso sufrágio será realmente igual.

Por que secreto? Porque nós queremos dar liberdade completa ao povo soviético para votar em quem eles querem eleger, em quem eles acreditam que defenderão os seus interesses.

Por que direto? Porque eleições diretas para todas as instituições representativas, inclusive para os órgãos supremos, irão defender melhor os interesses dos trabalhadores de nosso país sem fronteiras.

Você pensa que não haverá disputas eleitoras. Mas haverá, e eu estou prevevendo campanhas eleitorais muito animadas. Há instituições em nosso país, e não poucas, que trabalham muito mal. Ocorrem casos em que este ou aquele órgão do governo local não consegue satisfazer as multivariadas e crescentes exigências dos trabalhadores da cidade e do campo. Você construiu uma boa escola ou não? Você melhorou as condições de moradia? Você é um burocrata? Você ajudou a fazer o nosso trabalho mais efetivo e nossas vidas mais civilizadas? Tais serão os critérios pelos quais milhões de eleitores medirão a aptidão dos candidatos, rejeitandos os inapropriados, riscando seus nomes das listas de candidatos, e promovendo e indicando os melhores. Sim, as campanhas eleitorais serão animadas, serão conduzidas em torno de numerosos e críticos problemas, principalmente de natureza prática, de primeira classe para o povo. Nosso novo sistema eleitoral irá enxugar todas as instituições e organizações e obrigá-las a melhorar seu trabalho. O sufrágio secreto, universal e direto na URSS será um chicote nas mãos da população contra os órgãos do governo que trabalham mal. Em minha opinião nossa nova constituição soviética será a mais democrática constituição do mundo.

Pravda
5 de março de 1936


Tradução de Glauber Ataide

Capitalismo - golpe fatal no Leste Europeu

A restauração do capitalismo causou um drástico retrocesso nos países do Leste Europeu, incluindo os da ex-União Soviética, tanto economicamente quanto socialmente. Um relatório das Nações Unidas diz:

"Que a transição de uma economia planificada para uma economia de mercado foi acompanhada por uma alarmante mudança no bem-estar e na distribuição de riquezas das nações. Dados apontam que as mudanças resultantes nunca aconteceram tão rapidamente na história. Essas mudanças dramáticas resultaram em grandes perdas humanas."

(1) UNDP - Report for Development of Humanity - 1999. pp 39-79


Aqui estão alguns exemplos:

- 76% da população da ex-Alemanha Oriental disse que o socialismo foi positivo para eles;

- Numa pesquisa de opinião em 1999 na Romênia, 64% preferiam a vida sob o socialismo;

- Todos os entrevistados disseram que os países do Leste Europeu agora se tornarão países de Terceiro Mundo;

- Uma em cada 10 pessoas de países anteriormente socialistas sofre de déficit alimentar. Na Rússia, uma em cada dez pessoas sofre de subnutrição;

- Pela primeira vez nos últimos 50 anos o problema do analfabetismo ressurgiu;

- Hoje a tuberculose nos países anteriormente socialistas tem índices semelhantes aos dos países do Terceiro Mundo;

- Na Rússia os casos de sífilis em 1998 foi 40 vezes maior do que em 1990;

- A expectativa de vida masculina na Rússia caiu de 63,8 para 57,7 anos entre 1992 e 1994. Na Ucrânia caiu de 65,7 para 62,3;

- Desde 1992 o número de alcoólatras na Rússia dobrou;

- Agora na Rússia 60 em cada 100 grávidas abortam, e como consequência 6 milhões de mulheres ficam estéreis;

- Na Polônia o número de suicídios subiu até 25%. Em algumas repúblicas ex-Soviéticas este índice quase dobrou;

- A criminalidade na Bulgária quadruplicou em relação a 1989. Na Hungria e na República Tcheca ela triplicou.

- As mortes na Polônia subiram aproximadamente 60%, enquanto que em outros países ex-soviéticos este índice subiu até 250%.


De acordo com estes dados das Nações Unidas, nos primeiros cinco anos de transição do socialismo para o capitalismo a taxa de mortalidade subiu drasticamente para 5.000.000 de pessoas, que além de terem morrido precocemente durante este trágico período, em muitos casos ainda sofreram mortes cruéis.


Por Michael Opperskalski
Publicado na Revista Northstar Compass, Maio de 2010
Tradução de Glauber Ataide


"Acusações de Kruschev contra Stálin são falsas"

Entrevista publicada no Jornal A Verdade, nº 118, Julho de 2010.


A Verdade entrevistou, por e-mail, Grover Furr, professor da Universidade Montclair, no Estado de Nova Jersey, EUA, e autor do livro Antistalinskaia Podlost ("A infâmia antistalinista"), lançado recentemente em Moscou, na Rússia. Grover Furr é ph.D. em literatura comparada (medieval) pela Universidade de Princeton, e, desde 1970, ensina na Universidade de Montclair, sendo responsável pelos cursos de Guerra do Vietnã e Literatura de Protesto Social, entre outros. Suas principais áreas de pesquisa são o marxismo, a história da URSS e do movimento comunista internacional e os movimentos políticos e sociais. Nesta entrevista, o professor Grover fala de sua pesquisa e afirma que “60 de 61 acusações que o primeiro-ministro Nikita Kruschev fez contra Stálin são comprovadamente falsas”.

A Verdade – Recentemente, um grande número de livros tem sido publicado atacando a pessoa e a obra de Josef Stálin. Como o senhor explica a intensificação desse antistalinismo nos EUA e no mundo?

Grover Furr – Desde o fim da década de 1920, Stálin tem sido o maior alvo do anticomunismo ideológico e acadêmico. Leon Trótsky atacava Stálin para justificar sua própria incapacidade de ganhar as massas trabalhadoras da União Soviética [URSS]. A verdadeira causa da derrota de Trótsky é que sua interpretação do marxismo – um tipo de determinismo econômico extremado – predizia que a revolução estava fadada ao fracasso a não ser que fosse seguida por outras revoluções nos países industrialmente avançados. Mas a liderança do Partido preferiu o plano de Stálin para primeiro construir o socialismo em um só país. As ideias de Trótsky tiveram (e ainda têm) uma grande influência sobre todos aqueles declaradamente capitalistas e anticomunistas. Os historiadores trotskistas são muito bem acolhidos pelos historiadores capitalistas. Pierre Broué e Vadim Rogovin, os mais proeminentes historiadores trotskistas das últimas décadas, já foram louvados e ainda são frequentemente citados por historiadores abertamente reacionários. Muitos na liderança do Partido em 1930 combateram Stálin quando este lutava por democracia interna no Partido e, especialmente, por eleições democráticas para os sovietes. As grandes conspirações da década de 1930 revelaram a existência de uma ampla corrente de oposição às políticas associadas a Stálin. Essas conspirações de fato existiam: os oposicionistas realmente estavam tentando derrubar o partido soviético e assassinar a liderança do governo, ou tomar o poder liderando uma revolta na retaguarda, em colaboração com os alemães e os japoneses. Nikolai Ezhov, líder da NKVD (o Comissariado do Povo para Assuntos Internos), tinha sua própria conspiração direitista, incluindo colaboração com o Eixo. Visando aos seus próprios fins; ele executou centenas de milhares de cidadãos soviéticos completamente inocentes para minar a confiança e a lealdade ao governo soviético. Quando Stálin morreu, Kruschev e muitos líderes do Partido viram que poderiam jogar a culpa por essas grandes repressões em cima de Stálin. Eles também inventaram muitas outras mentiras escancaradas sobre Stálin, Lavrentii Béria e pessoas próximas aos dois. Quando, bem mais tarde (1985), [Mikhail] Gorbachev assumiu o poder, ele também percebeu que as suas “reformas” capitalistas – o distanciamento do socialismo em direção a relações capitalistas de mercado– poderiam ser justificadas se sua campanha anticomunista fosse descrita como uma tentativa de “corrigir os crimes de Stálin”. Essas mentiras e histórias de horror permanecem como a principal forma de propaganda anticomunista, hoje, no mundo. A tendência é que elas se intensifiquem, pois os capitalistas estão diminuindo os salários e retirando benefícios sociais dos trabalhadores, caminhando em direção a um exacerbado nacionalismo, ao racismo e à guerra.

A Verdade – O que o levou a se interessar pela história da URSS?

Grover Furr – Quando estava na faculdade, de 1965 a 1969, eu fazia protestos contra a guerra dos EUA no Vietnã. Um dia, alguém me disse que os comunistas vietnamitas não poderiam ser “caras legais” porque eram todos “stalinistas”, e “Stálin tinha matado milhões de pessoas inocentes”. Isso ficou na minha cabeça. Foi provavelmente por isso que, no início da década de 1970, li a primeira edição do livro O grande terror, de Robert Conquest. Fiquei impressionado quando o li! Mas eu já tinha um certo domínio do russo e podia ler neste idioma, pois já vinha estudando literatura russa desde o ensino médio. Então examinei o livro de Robert Conquest com muito cuidado. Aparentemente ninguém ainda havia feito isso! Descobri, então. que Conquest fora desonesto no uso de suas fontes. Suas notas de rodapé não davam suporte a nenhuma de suas conclusões “anti-Stálin”. Ele basicamente fez uso de qualquer fonte que fosse hostil a Stálin, independentemente de se era confiável ou não. Decidi, então, escrever alguma coisa sobre o “grande terror”. Demorou um longo tempo, mas finalmente foi publicado em 1988. Durante este tempo estudei as pesquisas que estavam sendo feitas por novos historiadores da URSS, entre os quais Arch Getty, Robert Thurston e vários outros.

A Verdade – Seu livro Antistalinskaia Podlost (“A infâmia anti-stalinista”) foi recentemente publicado em Moscou. Conte um pouco sobre ele.

Grover Furr – Há aproximadamente uma década fiquei sabendo da grande quantidade de documentos que estavam sendo revelados dos antigos arquivos secretos soviéticos, e comecei a estudá-los. Li em algum lugar que uma ou duas das declarações de Kruschev em sua famosa “fala secreta”, de 1956, foram identificadas como falsas do início ao fim. Daí, pensei que poderia fazer algumas pesquisas e escrever um artigo apontando alguns outros erros de seu pronunciamento da “sessão secreta”. Nunca esperei descobrir que tudo o que Kruschev disse – 60 de 61 acusações que ele fez contra Stálin e Béria – eram comprovadamente falsas (não pude encontrar nada que comprovasse a 61ª)! Percebi que este fato mudava tudo, uma vez que praticamente toda a “história” anticomunista desde 1956 se baseia ou em Kruschev ou em escritores de sua época. Verifiquei que a história soviética do período de Stálin que todos aprendemos era completamente falsa. Não apenas “um erro aqui e outro ali”, mas fundamentalmente uma fraude gigantesca, a maior fraude histórica do século! E meus agradecimentos ao colega de Moscou Vladimir L. Bobrov, que foi o primeiro a me mostrar esses documentos, me deu inestimáveis conselhos, várias vezes, e fez um excelente trabalho de tradução de todo o livro. Sem o dedicado trabalho de Vladimir, nada disso teria acontecido.

A Verdade – Em suas pesquisas o senhor teve acesso direto a arquivos soviéticos abertos recentemente. O que esses documentos revelam sobre os "milhões de mortos" sob o socialismo, especificamente no período de Stálin?

Grover Furr – Considerando que pessoas morrem a todo instante, eu suponho que você esteja falando de mortes “excedentes”. A Rússia e a Ucrânia sempre experimentaram fomes a cada três, quatro anos. A fome de 1932-33 ocorreu durante a coletivização. Sem dúvida, que um número maior de pessoas morreu do que teria morrido naturalmente. No entanto, muito mais pessoas iriam morrer em sucessivas fomes – a cada três, quatro anos, indefinidamente, no futuro – se não fosse feita a coletivização. A coletivização significou que a fome de 1932-33 foi a última, com exceção da grave fome de 1946-1947, que foi muito pior, mas isso devido à guerra. E, como mencionei anteriormente, Nikolai Ezhov deliberadamente matou milhares de pessoas inocentes. É interessante considerar o que poderia ter sucedido se a URSS não houvesse coletivizado a agricultura e não tivesse acelerado seu programa de industrialização, e se as conspirações da oposição nos anos 1930 não tivessem sido esmagadas. Se a URSS não tivesse feito a coletivização, os nazistas e os japoneses a teriam conquistado. Se o governo de Stálin não houvesse contido as conspirações direitistas, trotskistas, nacionalistas e militares, os japoneses e os alemães teriam conquistado o país. Em qualquer um desses casos, as vítimas entre os cidadãos soviéticos teriam sido muito, muito mais numerosas do que os 28 milhões mortos na guerra. Os nazistas teriam matado muito mais eslavos ou judeus do que mataram. Com os recursos, e talvez até mesmo com os exércitos da URSS do seu lado, os nazistas teriam sido muito, muito mais fortes contra a Inglaterra, a França e os EUA. Com os recursos soviéticos e o petróleo de Sakhalin, os japoneses teriam matado muito, muito mais americanos do que fizeram. O fato é que a URSS sob Stálin salvou o mundo do fascismo não apenas uma vez, durante a guerra, mas três vezes: pela coletivização; pelo desbaratamento das oposições direitista-trotskista-militares e também na guerra. Quantos milhões isso dá?

A Verdade – Alguns autores vêm tentando encontrar semelhanças entre Stálin e Hitler, e alguns até chegam a afirmar que o suposto "stalinismo" foi “pior” que o nazismo. Existia realmente alguma ligação entre Stálin e Hitler?

Grover Furr – Os anticomunistas e os pró-capitalistas não discutem a luta de classes e a exploração. De fato, eles ou fingem que essas coisas não existem ou que não são importantes. Mas a luta de classes causada pela exploração é o motor da história. Então omitir isso significa falsificar a história. Hitler era um capitalista, um anticomunista autoritário de um tipo que é comum em vários países capitalistas. Stálin liderou o Partido Bolchevique e a URSS quando os comunistas em todo o mundo estavam lutando contra todo tipo de exploração capitalista. Sempre que dizemos “pior”, devemos sempre nos perguntar: “Pior para quem?” A URSS e o movimento comunista durante o período de Stálin foram definitivamente “piores que o nazismo”, para os capitalistas. Essa é a razão de os capitalistas odiarem tanto Stálin e o comunismo. O movimento comunista durante o período de Lênin e Stálin, e ainda por um bom tempo depois, foi a maior força de libertação humana da história. E novamente devemos nos perguntar: “Libertação de quem? Libertação do quê?” A resposta é: libertação da classe trabalhadora de todo o mundo, da exploração capitalista, da miséria e das guerras.

A Verdade – Um dos ataques mais frequentes a Stálin é que ele seria responsável pela fome na Ucrânia, em 1932-1933, também chamada de Holodomor. Esta versão da história corresponde ao que realmente ocorreu?

Grover Furr – O “Holodomor” é um mito. Nunca aconteceu. Esse mito foi inventado por ucranianos nacionalistas pró-fascistas, junto com os nazistas. Douglas Tottle comprovou isso em seu livro Fraud, Famine and Fascism (1988). Arch Getty, um dos melhores historiadores burgueses (isso é, não marxistas, não comunistas), também tem um bom artigo sobre isso. Até o próprio Robert Conquest deixou de defender sua antiga versão de que os soviéticos deliberadamente causaram a fome na Ucrânia. Nenhuma sombra de prova que poderia confirmar essa visão jamais veio à luz. O mito do “Holodomor” persiste porque ele é o “mito fundacional” do nacionalismo direitista ucraniano. Os nacionalistas ucranianos que invadiram a URSS juntamente com os nazistas mataram milhões de pessoas, incluindo muitos ucranianos. Sua única “desculpa” é propagandear a mentira de que eles “lutaram pela liberdade” contra os comunistas soviéticos, que eram “piores”.

A Verdade – Deixe uma mensagem para os trabalhadores brasileiros.

Grover Furr – Lutem pelo comunismo! Todo o poder à classe trabalhadora de todo o mundo!



Glauber Ataíde, PCR, Belo Horizonte

Os donos do mundo

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Por que parar com a ciência criacionista?

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