Há três tipos de conservador: um que tem chilique com a palavra “revolução”, outro que tem Palinchilique com a palavra “sexo”, e um terceiro, que arrepia com ambas as palavras.
O primeiro tipo, o que treme ao ouvir a palavra “revolução”, pode ter um tipo de chilique desesperador. Todavia, não é difícil para ele, com o tempo, desenvolver um modo de lidar com isso. Antes que a apresentem a ele, não tarda em ridicularizá-la.
Esse tipo tem lá sua razão. As revoluções políticas nem sempre terminam com menos carnificina que aquela promovida pelo regime derrubado. No entanto, esse tipo de conservador é aquele que cobra realismo de todos, ele quer menos ingenuidade e menos infantilidade. Ora, revoluções são reais, acontecem, e elas são responsáveis por nossa história ser o que é, ou seja, algo aberto para o imprevisível. Quem cobra realismo de outros deveria ter a macheza mínima de suportar irrupções históricas, porque afinal, elas emergem. Quem cobra realismo deveria também, depois, não tentar diminuir as revoluções, principalmente quando a historiografia já nos deu prova de que se trata de alguma coisa importante, que efetivamente mudou o mundo.
O segundo tipo, o que tem convulsões ao ouvir a palavra “sexo”, também às vezes nos assusta com seus gritos. Claro que também este, com o passar do tempo, obtém um modo de escutar e até pronunciar uma tal palavra – “se… se … xo”. Sua estratégia é bem comentada e sabida: medicaliza a palavra. Os médicos falavam de pênis, e isso já era um termo sob uma boa assepsia, agora nem é isso mais que usam. Falam em “membro sexual masculino”. O sexo se transformou uma propriedade do médico que, com seu uniforme branco e sua seriedade profissional, é aquele que pode dissertar sobre tal assunto com a distância que, antes dele, esteve nas mãos do padre.
Não é nada inútil colocar o sexo sob os cuidados médicos. A ciência ajuda a fazer do sexo alguma coisa possível de ser conversada sem misticismo cultivado pela ignorância, e isso é bom. Todavia, o tipo conservador que, enfim, exatamente pelo seu realismo, quer se mostrar corajoso e enfrentar tudo que é natural, não deveria precisar de tantas luvas para falar de sexo. Afinal, dizem até que os conservadores gostam de Nelson Rodrigues, então eles deveriam ser um pouco mais despudorados. Mas não são. No frigir dos ovos eles estão sempre sentados na sala de jantar, rodeados de crianças que são só inocentes aos seus olhos.
Os motivos pelos quais os conservadores criam problemas diante de “revolução” e “sexo” não são difíceis de notar.
Revolução implica em mudança de controle e, às vezes, de alteração nas próprias formas de controle. O conservador tem um medo danado não só do que os revolucionários podem fazer com ele, mas do que ele pode fazer consigo mesmo em uma sociedade em que, mesmo só por um breve momento, houver liberdade. O conservador é mais ou menos parecido com aquela garota que não sabe se é ou não lésbica, e que então nunca bebe, pois acredita que se beber irá para a cama com todas as colegas naquela noite.
Sexo implica em prazer. Ora, o conservador teme o prazer. Caso ele seja rico, ele teme que seus operários comecem a gastar energia antes no sexo que no trabalho. Caso o conservador seja pobre, ele teme que o sexo o jogue para fora de sua própria família. Pois quem quer sexo quer também o ambiente de desregramento do bar. Isso porá sua família em risco. Mas ele também teme que, em um mundo onde todos queiram ter prazer, não será a filha do patrão que pagará o preço por isso, mas suas filhas. Em geral, não é que ele queira proteger suas filhas. Mas ele tem ciúmes delas, segundo uma tendência incestuosa que ele disfarça.
Esse quadro que pinta o rosto do conservador pode não valer para alguns, justamente porque esses alguns ainda não pensaram com coragem sobre tudo isso. Quando refletirem melhor, se tiverem realmente coragem, confessarão que não estou falando bobagem, e que meu quadro abocanha bem muitos conservadores conhecidos. Talvez até mais do que possamos avaliar em um primeiro momento.
Paulo Ghiraldelli, filósofo
Visto na Página Vermelha
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