Inflação é causada por ação de especuladores e cartéis na economia

Em sua última reunião, realizada no dia 20 de abril, o Comitê de Política Monetária do Banco Central voltou a aumentar a taxa básica de juros, a Selic, de 11,75% para 12%. Apesar de ser o terceiro aumento desde o início do ano, de acordo com a ata da reunião novos aumentos virão: "o ajuste total da taxa básica de juros deve ser, a partir desta reunião, suficientemente prolongado". O aumento dos juros é uma das principais medidas defendidas pelos economistas burgueses para combater a inflação. Segundo eles, fortes aumentos de juros levam à diminuição do consumo e a queda dos preços.

Com a decisão, o Brasil segue sendo o país que tem a maior taxa de juros reais do mundo (taxa de juros menos a inflação). Justificando essa política monetária, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarou na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) que "É importante moderar o crescimento da demanda mas sem matar a galinha dos ovos de ouro, que é o mercado interno".

Num país onde 79 milhões de pessoas se mantêm com renda familiar abaixo de R$ 1.020,00 e 38% dos jovens vivem em situação de extrema pobreza é, no mínimo, uma estupidez falar em diminuir consumo, quanto mais adotar uma política econômica com esse objetivo.

Política essa que tem se mostrado totalmente ineficaz. De fato, há anos o Brasil tem a maior taxa de juros do mundo, mas a inflação não para de crescer. Em 2010, a inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), atingiu 5,91% e a previsão é que alcance 6,5% este ano. Assim, além de ter a maior taxa de juros, o Brasil é o 4º país do mundo em inflação; só perde para Índia, Rússia e Argentina.

Na realidade, a inflação é apenas um pretexto para aumentar a taxa de juros, pois se houvesse interesse em combatê-la, a primeira coisa a fazer seria analisar em profundidade suas reais causas.

Nesse sentido, é quase unanimidade que a recente alta dos preços (43% de aumento nos preços dos alimentos) deve-se em grande parte à ação dos especuladores, isto é, dos bancos e fundos de investimentos, com as chamadas commodities, principalmente petróleo e alimentos. A própria FAO, órgão da ONU para Alimentação e Agricultura, em seus relatórios, tem afirmado que a principal causa da elevação dos preços dos alimentos no mundo é a especulação, como deixou claro Olivier de Schutter, relator da ONU para o Direito à Alimentação: "os preços do trigo, do milho, e do arroz têm aumentado significativamente, não por causa de estoques ruins ou más colheitas, mas devido aos especuladores".

Num mundo que vive uma das maiores crises econômicas da história, em que o número de desempregados é cada dia maior, mais de um bilhão de pessoas passam fome e outros dois bilhões vivem com menos de US$ 2 dólares por dia, não se pode levar a sério uma análise econômica que credita a alta dos preços dos alimentos ao crescimento do consumo.

Com a bancarrota da economia capitalista, queda do dólar e incerteza quanto à capacidade dos Estados Unidos e demais países capitalistas ricos pagarem suas dívidas públicas, como mostraram os casos da Grécia, da Irlanda e de Portugal, os donos do capital, bancos e monopólios deixaram de investir em títulos da dívida desses países e passaram a especular com alimentos e combustíveis.

Desse modo, se realmente se pretende combater a inflação, é preciso agir contra esses especuladores que para obterem lucros maiores provocam a subida dos preços dos alimentos e aumentam a fome no mundo.

Como o Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos do planeta, bastaria destinar parte das exportações para o mercado interno para ocorrer uma queda dos preços dos alimentos, e, consequentemente, da inflação em nosso país. Nem pensar, proclamam os economistas burgueses, é preciso deixar agir "livremente" as forças do mercado. Porém, no caso dos juros, como vimos, eles defendem a intervenção firme do governo.

Vamos aos fatos. Nas duas últimas semanas de abril, o preço do álcool anidro subiu 27,8%. Os usineiros, promovidos a heróis nacionais pelo presidente Lula, dizem que o motivo é que a produção é insuficiente para atender ao consumo. Esquecem que estamos em plena safra da cana e que o preço do custo de produção do álcool, segundo o professor Walter Belik, do Instituto de Economia da Unicamp, está entre R$ 0,30 e R$ 0,35 por litro, mas ele sai das usinas por R$ 2,38 o litro. Contra essa roubalheira, nada faz o governo. Diz que cabe ao mercado, quer dizer, aos usineiros (hoje, em sua maioria empresas multinacionais), decidir o preço do álcool.

Outro vilão da inflação é a carne bovina, que teve um aumento 32% no ano passado, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas. Ora, o Brasil tem um dos maiores rebanhos de gado do mundo e é o maior exportador mundial de carne bovina. Deveria, assim, ter a carne mais barata do mundo, mas graças às "livres forças do mercado", não é o que acontece; há muito que o prato de comida do trabalhador não vê carne.

Ainda contribuíram para a inflação os extorsivos aumentos das tarifas do transporte coletivo ocorridas recentemente em várias capitais. Mas, também aqui, o governo não moveu nenhuma palha, nem mesmo pediu que as empresas mostrassem suas planilhas com o aumento dos custos ou, pelo menos, exigiu que aumentassem os miseráveis salários dos motoristas e cobradores. Os donos das empresas de ônibus aumentaram as passagens e o governo mandou a polícia militar e a guarda municipal reprimir os que ousaram protestar contra esse abuso.

Tem mais. Embora desde a privatização, as empresas de energia elétrica tiveram aumentos superiores à inflação (nos últimos dez anos, a energia elétrica aumentou 186% enquanto a inflação, segundo o IGP-M, foi 124%), no final de abril, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou novo reajuste acima da inflação e maior do que reivindicaram as empresas.

Vejamos: a Ampla, que distribui parte da energia no Rio de Janeiro, pediu à Aneel reajuste de 6,45% a 9,55%, e ganhou 11,8%. A Cemig pediu até 8,8% e recebeu autorização para aumentar para 9,02%, e a CPPL, de São Paulo, queria 6,71% e recebeu autorização para aumentar 7,72%.

È difícil acreditar que se quer combater a inflação sendo tão generoso com os usineiros, os grandes fazendeiros, os especuladores, enfim, com a classe capitalista.

Porém, se a alta dos juros não tem diminuído a inflação, tem servido para enriquecer uma reduzida minoria de ricaços e parasitas. De acordo com dados do próprio Banco Central, os bancos nacionais e estrangeiros possuem 55% dos títulos da dívida interna, os fundos de investimentos 21%, os fundos de pensão 16% e as empresas não financeiras 8%.

Pois bem, somente com o aumento de 1,25% na taxa básica de juros, o governo aumentou em mais R$ 25 bilhões os gastos com juros. No total, ao terminar o ano, o Tesouro Nacional (leia o povo brasileiro) colocará nos bolsos dos banqueiros cerca de 230 bilhões reais. Isto é quase quatro vezes o que o Brasil gasta com a Saúde, 16 vezes o Bolsa Família e mais de cinco vezes o que é investido na Educação. O pior é que mesmo pagando anualmente essa fortuna, a totalidade da dívida pública atingiu a astronômica cifra de R$ 2 trilhões e 241 bilhões de reais.

Portanto, o combate à inflação é apenas uma cortina de fumaça para justificar a continuidade de uma política criminosa com o dinheiro público que visa a beneficiar os bancos nacionais e estrangeiros. Aliás, é com estes banqueiros que o presidente do BC se reúne antes de cada reunião do Copom. Um exemplo: no dia 24 de março, em São Paulo, o presidente do BC participou de um delicioso jantar com um grupo de 17 empresários e banqueiros na casa de Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Sekular Investimentos.

Como se sabe, para garantir o pagamento de juros a este seleto grupo de parasitas, o governo cortou R$ 50 bilhões do Orçamento, isto é, tirou de investimentos na economia e congelou os salários dos servidores públicos. Conclusão: quando o governo aumenta a taxa de juros não está combatendo a inflação, mas sim transferindo renda dos trabalhadores para uma oligarquia financeira.

Luiz Falcão


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